sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um ensaio... sobre a saudade.


Esse foi um título que veio à minha cabeça logo que eu fui impelido por uma vontade de contar algo sobre isso.
Na verdade, foi uma soma quase que quântica de vontade própria com a de uma amiga que me perguntou como eu lidava com isso.
Saudade...
É uma palavra que na língua que estou aprendendo (espanhol) é um pouco diferente... sentir saudade é “estrañar” uma pessoa...
Sentido oposto também para o que nós, brasileiros, sabemos o que é ser “estranho” a alguém...
São saudades distintas, talvez... mas fruto de um mesmo sentimento... de uma mesma raiz.
Como então dizer ou correlacionar isso de uma forma concisa a ponto de estar de acordo com essas palavras. Ou melhor... fazer com que essas palavras estejam de acordo com uma coerência ao se falar disso?
De fato, a propositura desse desafio talvez devesse ser algo mais individualizado... mais particular, eu diria.
Talvez algo entre eu e ela, tão somente...
Mas depois eu pensei: Oras! Não seria justo da minha parte contar sobre isso, sem que a razão motivadora não soubesse também. Isso é e deve ser, pelo menos para mim, como uma reflexão sincera daquilo que sei sobre saudade... ou melhor... daquilo que sinto, sobre saudade.
E sim... a saudade deriva, pelo meu ângulo de onde eu posso sentir, daqui...  da parte daqueles que se distanciam e não daqueles que ficam e assistem o distanciar de outras pessoas, e ambos são sentidos de uma forma completamente diferente.
Penso que são dois lados, mesmo que de uma mesma moeda, mas ainda assim... DOIS lados!
Um é você se enxergar na posição de quem ficou para trás... e sente saudade daquele que se foi.
Outro lado é o de quem partiu e deixou para trás aquilo que hoje é o centro da saudade.
É um sentimento.
Conto, portanto, como que de uma forma naturalmente individual.
E também da forma com que lido com isso.

Na verdade, é uma história...
Mais uma, dentre tantas outras.
O começo dela ninguém sabe, nem eu sei, ao certo, quando começou...
Não quero uma aula sobre antropologia... mas sim falar e contar um pouco da minha experiência e quando foi que ela nasceu dentro de mim, para depois saber, como é que ela atua comigo... e como eu consigo viver com ela.
A saudade, portanto, nasce de momentos que admiramos.
Momentos que podem estar ou não ligados à outras pessoas...
Sentimos saudade somente daquilo que conhecemos, de fato. Daquilo que não conhecemos, logicamente não sentimos saudade.
Sentimos saudade daquilo que vivemos, portanto.
Daquilo que de alguma forma marcou nossa existência naquele momento X...
Se foi com uma pessoa... será a pessoa...
Se com um momento abstrato... será a saudade desse momento.
A saudade é a falta que nos faz sentir aquilo que nos faz bem.
Se um dia você conhece inusitadamente uma pessoa... e com o tempo (o tempo pode ser longo... tipo, dois anos... ou extremamente curto... tipo, 8 horas) percebe que estar com aquela pessoa te faz sentir coisas boas... sentir-se acolhido e seguro...
Ali é o principio....
Confesso que a saudade é necessária para a vida.
A vida não é uma obra de arte... e os momentos não são duráveis.
Essa frase é importante para sabermos detalhar o que é um momento... e porque ele não deve ser ideal todo o tempo.
Como assim “não ser ideal todo o tempo”?

Explico...
 A vida, ou pelo menos o que eu consigo entender dela, é como um coração pulsante...
Como as ondas do mar...
A vida deve ter movimento... e o movimento quem dá são as variações dos momentos.
Bate forte... bate devagar...
A onda forte... e a onda calma...
As grandes emoções... e as emoções sutis.
É assim que se constitui a vida: às vezes estamos lá em cima... mas às vezes temos que admitir estarmos lá embaixo...
E perceber a importância de estar em cima ou embaixo deve ser algo complemente desvinculado à uma lógica quantitativa e cartesiana de opostos.

Se talvez entendêssemos os momentos fortes e outros não fortes apenas como estágios distintos entre si, tão logo diferentes, poderíamos entender uma coexistência entre eles. Não os julgando parcialmente como bons ou maus... mas sim tão somente como a coexistência de um todo.
Tudo aquilo que nos faz bem, nos faz bem naquele momento.
Pode ser que num segundo momento não seja tão dessa forma.
A saudade, portanto, deve ser enxergada como uma memória de um passado...
E não como uma âncora que vai te acorrentar a busca de repetir os momentos perfeitos e bons.
A saudade tem uma outra peculiaridade: A saudade é egoísta...
Sim! Egoísta... porque ela se relaciona diretamente com o nosso ego, fazendo com que a saudade exista somente por aquilo que JULGAMOS individualmente como bom.
Nunca sentimos saudades daquilo que nos aborrece, ou nos maltrata.
Nunca vamos sentir saudades de um carrasco... de um acidente.
Mas sentimos saudades daquilo que esta diretamente ligado aos nossos julgamentos de partes positivas e boas de nossas vidas.
A saudade, por conseguinte, deve ser combustível sim... mas não para uma reprodução daquilo que já sabemos ser bom, mas para um acalento daquilo que cresceu dentro de nós... e precisa constantemente ser revisto.
Como eu lido com isso tudo...
Essa, na verdade, foram palavras que chegaram por e-mail, vindos de uma amiga... ao qual sinto muitas saudades.... mas uma outra forma talvez de senti-la... uma saudade com cheiro de platônicismo...
De algo idealizado demais para ser verdade na prática.
Palavras que chegaram como uma pergunta... e que talvez eu não soubesse responder até que começasse e escrever sobre isso, aqui e agora.

(por isso eu admiro cada vez a capacidade que algumas pessoas têm de estimular outras na busca de respostas... isso, sinceramente, eu julgo ser a coisa mais importante em uma pessoa: a capacidade que ela tem de fazer com que você se mova... ou a capacidade que ela tem de te tirar do lugar... da inércia!).
De fato sinto muito...
Sinto no sentido literal dos sentimentos... (risos... woowwww.... que complicação para dizer uma coisa simples, né?)
Pois bem... mas é isso. Eu, apesar de tudo... ainda consigo me considerar uma pessoa sentimental, mesmo sendo bastante racional.
Mas eu costumo dizer que sou 0,2% mais sentimental que racional.
Contudo... o que isso interessa?
Bom.. interessa pois se você se considera ou aceita-se como sentimental, isso significa dizer que tudo que for do “ramo” dos sentimentos, será mais... digamos... “valorizado”. Ou melhor... será mais “apreciado”... “degustado”...
A saudade nasce, portanto, nesse momento de distância, de tudo aquilo que quando você olha para trás, te faz sorrir e pensar: Caramba! Que bom que era aquilo!
A saudade transforma... e pode tomar conta de todo um momento. Você pode fazer ou deixar de fazer certas coisas por estar impelido de demasiada saudade.
Mas eu costumo também brincar que a certeza é a inimiga da saudade.
Não sei e não pensei ainda sobre a certeza ser a MAIOR inimiga da saudade, mas agora e literalmente agora, eu pré julgo como uma inimiga, somente. Uma grande, inimiga, eu diria.
Por quê?
Bom... a certeza é meio que a razão dentro do sentimento da saudade, entende?
A certeza faz com que você mantenha-se com os pés no chão... e é geralmente o que faz com que essas pessoinhas aí que são sentimentais, ou que se julgam sentimentais (eu sou uma delas! – risos..), não saiam por aí cometendo loucuras em nome da saudade, nem modificando seus planos de vida ou planos de momentos, em nome dela...

A saudade “inerente”.
A saudade, por si só já deve ser entendida como inerente... Porque a todo momento você esta construindo coisas das quais pode sentir falta... Mas a saudade, como dizia, tem uma inimiga, ou melhor... tem uma solução. Um antídoto, talvez. Que é a certeza, ok?
Mas às vezes, nem a certeza é capaz de resolver aqui nessa vida, e de uma forma prática e fisicamente possível, um sentimento de saudade que temos.
Isso acontece quando sentimos isso por momentos únicos... e exclusivamente determinantes.
Isso se dá também ao que sentimos por pessoas que não estão mais vivendo entre nós... (nesse caso, é imprescindível recorrermos ao engrandecimento e lapidação das nossas porções espirituais, pois isso faz com que exista a tal “certeza”, quando estamos falando de vida e de morte).
Desta forma, podemos lidar com isso como sendo uma tal saudade inerente. Coisas que passaram, que foram muito boas... mas que não serão possíveis, nem de longe, serem novamente vividas.
A certeza, desta forma, acaba sendo a solução, por fazer com que exista uma expectativa de viver senão a mesma coisa, algo muito parecido.
O erro, como já dizia anteriormente, é você buscar suprir a saudade com reproduções do passado.
Mais uma vez eu reescrevo a frase:

A vida não é uma obra de arte... e os momentos não são duráveis.

O que vivemos, passou... vivemos e ponto final.
Se foi bom ou mal, tanto faz para essa parte do contexto. O fato é que passou.
Mesmo aquilo que pode ter sido mais maravilhoso... se foi passado... não existe, de fato, nenhuma segurança e certeza de que aquilo se repetirá no presente/futuro.
Mas a certeza dá à saudade a solução, quando pensamos na certeza como algo não idealizado.
Como algo... digamos... não concluído e esperado.
Mas somente como uma nova fase, sabe?
Não sabemos o que vamos enfrentar nessa nova fase, mas sabemos que podemos tentar passar por ela de uma forma positiva.
Aí entra a função da saudade, como arquivo memorial do que vivemos...
Não temos que ter certeza que vamos viver coisas boas se reproduzirmos os momentos, mas sim ter a certeza de que vamos estar prontos para viver coisas novas, e que sejam as melhoras possíveis!
E aí sim a saudade se torna algo extremamente importante na vida de um ser humano... pois ela vai construir coisas novas e novas possibilidades de você buscar por coisas positivas, SEMPRE.... visto que, lá atrás, vimos que a saudade é um mecanismo sentimental um tanto quanto e exclusivamente... egoísta!
E se você tem certeza de que aquilo não foi um acaso... que aquele bom momento passou, mas que outros vão vir... geralmente você aprende que a saudade é um fio de vida, ou melhor... um dos pilares da sua busca por coisas boas.
Isso se relaciona de todas as formas possíveis... desde familiares... lugares que você esteve e não esta mais... amigos que estiveram com você.... TUDO!
Lidar com a saudade é para mim... algo como lidar com as certezas.
Sentir saudade é sentir vontade de realmente acreditar demais naquilo que se esta fazendo, e percebendo a todo instante que aquilo vale à pena.
Que às vezes pode parecer difícil ou duro... mas que ainda assim, vale muito a pena ser feito.
Eu já fui de chorar mais por estar distante de pessoas que eu queria todas do meu lado...
Mas apenas como um desfecho... a vida é esse coração pulsante... essa roda gigante que nunca pára.
E o que podemos ofertar a nós mesmos, no que tange ao fato de sentirmos mais ou menos saudades, um em relação ao outro, é o desapego dos momentos... e ter a certeza de que eles acontecem assim... muitas vezes sem sabermos dar um única linha de explicação, de uma forma inusitada, portanto. Ou em outros momentos, tentando por alguns muitos parágrafos explicar o que é e como lidar com isso que ninguém um dia vai saber explicar, muito menos dizer por palavras como lidar: A saudade!
Mas ainda assim, poder olhar para frente, mesmo que seja para uma foto, por exemplo... e dizer: “Arianne, estou com saudade!” faz todo o sentido, pois não importa onde estivermos... com quem estivermos... de uma forma igualmente inexplicável tudo esta conectado.
Sentir saudade de uma amiga especial.. de um parente próximo... de um lugar que estivemos em algum momento... tudo isso basta quando temos a certeza de que aquilo não acabou ali, e o que vêm pela frente é apenas a continuação do que COMEÇOU ali.
E eu costumo dizer também, que quanto mais intensa for sua saudade, mais intenso serão seus dias... pois você vai perceber na pele que está fazendo com que tudo, no final das contas, vai valer cada segundo que sentimos... saudade.

2 comentários:

  1. Uauu ! Concordei, discordei e concordei de novo ! Agora saudades que quem fica, daqui alguns dias saudades de quem vai !
    Um desapego do passado, mas este é quem constroe e destroe quem somos hoje, talvez essa tal saudades faça a primeira parte do trabalho da constituição do ser: a destruição! A destruição construtiva ! Como vc disse: saudades transforma (ir além da forma). Destroe, constroe e então transforma !
    As vezes é a mesma coisa, só que com outra forma (então será que ainda é a mesma ???)
    Beijos
    Muuuitas saudades e poucas certezas...

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