sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

San Martin hasta Bariloche... e suas energias.


Sábado, 27 de Novembro, aqui… 2010 anos depois de Cristo…

Os meus motivos seriam muitos... talvez intermináveis. Minhas razões também...
Na verdade, essa história começa um pouco antes... bem pouco antes!
Era sexta feira... um dia antes desse sábado.
Eu estava editando umas fotos aqui no quarto de cima da cabana na floresta...
Editar fotos eu sempre achei um verdadeiro “saco”... mas dessa vez, naquela sexta-feira... eu estava gostando. Tanto que passei o dia inteiro fazendo isso. Mesmo que no dia inteiro eu tenha tratado umas 10 ou 12 fotos somente.
Curvas... níveis... saturação... brilho... contraste!
Tudo muito sensível... e eu percebi umas coisas bem interessantes... que uma foto em si... é só uma foto...
A vida à ela... é o Photoshop que dá.... e nesse processo, existem as emoções daquele que trata as imagens... Isso depende do humor, do estado de espírito de cada um.
Ou seja, a foto é única, de fato. É um “momento eternizado em uma imagem que não se mexe”... Mas a alma desse momento, você é quem descobre alterando as linhas das curvas de sombra... de contraste... de cor.
Isso faz com que algo além da foto única exista ali, bem diante dos seus olhos.
Sempre foi.. e talvez sempre seja assim... A foto mostra aquilo que quem a tirou quer mostrar, e a parte de edição é uma parte importante.
Fico ainda muito abismado com a frase do meu amigo Ram... um dos meus ícones vivo (MUITO VIVO!) e inspiradores... que dizia que existem dois tipos de se tirar uma foto: “Analogicamente ou digitalmente.
Quem trabalha com analógica TEM que saber usar um laboratório de revelação...
Quem trabalha com digital TEM que saber usar.... PHOTOSHOP!”
E é verdade... nos mínimos detalhes isso é verdade.
O antes e o depois são quase que opostos... e as possibilidades são absurdamente variáveis. Um milímetro de movimentação de uma curva de cor, pode mudar completamente o sentido da foto tirada.
Enfim... trabalhar com isso é quase uma terapia.
E eu estava nessa terapia durante toda a sexta-feira.
Estava um dia lindo lá fora... o sol.
E então veio a noite... e eu continuei com isso. Com as fotos...
Antes de desligar o computador... fiz uma breve recapitulação de todas as fotos que estavam no meu computador. Umas bem antigas... de 2005... outras bem recentes, ali do nordeste do Brasil.
Nossa... foi especial aquilo. Ver os momentos... as pessoas.
Pensei em escrever e vou escrever um ensaio sobre a saudade. Faz um tempo que prometi isso para mim mesmo, e para uma amiga do Brasil, que em breve vai estar vivendo ali em Londres...
Ela me propôs um desafio (ou pelo menos eu tomei isso como um desafio...), que foi o de contar-lhe como lidar com a saudade, das pessoas... dos lugares.
Desde então eu venho pensando em escrever sobre isso... e ter visto todas as fotos, me vez sentir mais ainda uma urgência em contar sobre isso.
(...)
Olhei para os meus lados. Meus livros; poucos livros que trouxe comigo, e alguns que recebi de presente por aqui.
Olhei para um dos infinitos mapas que me circulam. Olhei para umas revistas de fotos que tenho por aqui... Uns catálogos de pássaros raros da Patagônia...
Olhei uns roteiros obrigatórios que eu rabisquei na semana passada e pensei: Se não agora, quando?
E quase que concomitante ao término desse pensamento... eu já estava com o celular na mão, ajustando o despertador para as 6:30 da manhã de sábado!
Fui dormir pensando no que levar... o que carregar.
Efetivamente pensei que sábado seria um dia especial. Eu iria fazer a minha primeira viagem de bicicleta em estradas internacionais.
Eu já havia pensado nisso. Mas somente pensado.
Sábado eu iria fazer o trajeto de San Martin de Los Andes até Villa La Angostura, que dista cerca de 140 quilômetros da cabana.
A Cabana está cerca de 20 quilômetros ao norte de San Martin. E Villa La Angostura está há cerca de 120 quilômetros de San Martin, mais ao sul.
Desde que estou aqui, há mais ou menos dois meses, eu tenho ocupado parte do meu tempo em projetar roteiros de lugares que eu TENHO que estar... Dentre eles eu coloquei Villa La Angostura, por ser um trajeto conhecido como “Caminho dos 7 Lagos”...
Bom, creio ser meio auto-explicativo o nome de como o Caminho até La Angostura é conhecido, certo?
Isso mesmo, porque no Caminho até La Angostura, a estrada passa por 7 Lagos de águas glaciais da região patagônica da Argentina.
Apenas para termos uma comparação com o Brasil... a Patagônia está para a Argentina, assim como a Amazônia esta para o Brasil.
Isso, logicamente, tendo uma comparação grotesca... não estou comparando aqui os aspectos econômicos/sociais. E sim os mistérios da fauna e flora... Isso com certeza faz muito sentido a comparação.
No mais... aqui tudo é muito exclusivista... Ou seja, muito voltado ao turismo excessivamente caro.
As cidades ou povos que vivem em torno desses lagos, exploram o turismo e isso aqui, eles fazem muito bem.
As cidades que permeiam os lagos e vales das cadeias de montanhas também são conhecidas como “pequenas suíças”, só para você ter uma idéia. Ou então, basta você saber estou aqui na região de Bariloche, muito conhecida no Brasil por pessoas que buscam um inverno rigoroso com muita neve, vinho e um pouco de fondue.
E isso no Brasil, seria como enxergar em cada pontinho do mapa onde mostram as cidades, como várias Poços de Caldas espalhadas pela região patagônica na Argentina.
(Hummm... claro... mas tudo muito mais caro e exclusivo do que propriamente em Poços de Caldas no Brasil – Quando eu digo caro... é caro mesmo. Aqui as pessoas da classe média alta não frequentam! Aqui é classe alta mesmo... é como a rua Oscar Freire, em São Paulo)
Pois bem... além disso tudo, o Caminho dos 7 Lagos eu sempre ouvi as pessoas daqui dizerem que é um dos roteiros mais lindos da Patagônia.
Bom... isso foi o suficiente para eu incluir esse roteiro no meu mapa de coisas que eu TENHO que fazer por aqui até Março (começo a estudar em Março, em Buenos Aires... portanto, eu vou subir para Buenos Aires talvez no inicio de 2011).
Nos meus planos, ao lado do Caminho dos 7 Lagos, esta Ushuaia, e Valdivia, no Chile, por exemplo.
Mas por motivos relacionados ao tempo e a minha impossibilidade de movimentação fora da Argentina (não estou com documentos que me permitam sair da Argentina), meus olhos foram direcionados para Villa La Angostura.
Um trajeto relativamente próximo. Eu não levaria muito tempo e conheceria a realidade de viajar de bicicleta em outro País.
Como disse, seria uma aventura de 140 quilômetros...
Para Ushuaia, por exemplo, seriam e serão 3.000 quilômetros... e eu, sinceramente, não estou preparado física e espiritualmente para isso... (Talvez em duas semanas eu esteja... mas não agora! – risos..)
Tudo preparado. Fui dormir na sexta, meio que sonhando com as coisas que eu ia levar. Com a roupa que eu iria sair.
Tudo teve um toque de muita ansiedade. Eu quase não dormi, na verdade.
Por quê?
Simples... seria a primeira vez que eu ia viajar em estradas internacionais. Eu não tinha pensado muito. Como eu disse, foi algo que eu resolvi fazer literalmente do dia para noite...

Não sabia o que levar para comer. Se existiam postos de serviço nesse trajeto...
Confesso que eu fui meio cego para essa viajem. Tudo muito corrido.
Não sabia se as estradas eram boas ou ruins...
E esse último fator foi realmente algo que eu me arrependi de não ter estudado antes.
Essa é a falha que geralmente as pessoas que se julgam independentes e confiantes demais cometem ao longo de suas investidas mundanas.
Eu estava confiante demais de que tudo daria certo.
Eu tenho um mapa muito bom, da cartografia rodoviária da Patagônia Argentina. Mas esse mapa eu não comprei. Ele estava aqui na Cabana, porém, é um mapa de 2002.
Eu vi a rota que eu iria seguir... Vi que no mapa mostrava um trecho de uns 80 quilômetros, dos 140 totais, que estaria em fase de construção para asfaltamento.
Bom... a minha lógica confiante e independente me fez acreditar que se em 2002 a estrada estaria em reforma, é claro que em 2010 a estrada estaria mais do que pronta.
Isso não faz um sentido lógico?
Sim... é uma lógica que eu usei para sair da Cabana, com uma bicicleta Speed (ou seja, projetada para Asfalto – aquelas bicicletas com pneu fininho, sabe?).
Pois bem... às 8 da manha de sábado começaria então a minha primeira expedição, que eu agradavelmente a chamei de “Desafio dos 7 Lagos”.
Eu montei o alforje da minha bicicleta pela manhã. Separei um pouco de Aveia, Semente de Girassol germinado. Um pouco de Amendoim e 6 laranjas.
Saí da Cabana rumo à minha primeira parada, que seria na cidade San Martin de Los Andes.
Parei no supermercado, comprei uns biscoitos integrais e uma garrafinha de suco, para posteriormente usá-la com água.
Atravessei a cidade e lá estava eu na estrada de saída sul da cidade, rumo ao desconhecido.
Vi a primeira placa indicando meu destino: La Angostura, indicando 112 quilômetros.
A saída Sul de San Martin de Los Andes já me deu uma expectativa do que eu iria encontrar pela frente.
A minha câmera eu adaptei um suporte para o case dela, no bagageiro da bicicleta, mas eu desisti de usá-lo nos primeiros quilômetros porque a todo instante eu via uma nova foto e o tempo que eu estava usando para descer da bicicleta, sacar a câmera e tirar a foto era muito grande, então, nos primeiros 5 quilômetros eu andei com a câmera pendurada no pescoço mesmo.
A saída sul contornava o primeiro lago, o lago Lacar.
O lago Lacar eu já conhecia, ele banhava a cidade de San Martin. Mas a estrada de saída sul, simplesmente contornou todo o lago pelo perímetro leste rumo ao sul.
As paisagens ficavam cada vez mais bonitas a cada pedalada.
Eu demorei 40 minutos para pedalar esses primeiros 5 quilômetros, justamente por ficar parando para admirar e sacar fotos.
Eu às vezes parava de pedalar só para dizer: Caramba! Isso não existe!
Tá... mas existia sim, e estava bem ali na minha frente.
E quem pedala em estrada, ou em geral quem pedala, sabe que o mundo acontece de uma forma diferente em cima de uma bicicleta. Os detalhes... as sensações são igualmente únicas.
Parece que você vive mais o momento.
Toda essa rota está dentro dos Parques Nacionais Lanin e mais ao sul, o Nahuel Huapi.
O Parque Nacional Lanin é o que cobre toda a parte norte do estado de Neuquen, no que tange os parques Nacionais da Patagônia.
Os dois parques, o Lanin e o Nahuel Huapi fazem divisa num mesmo território e juntos formam o maior complexo de parques nacionais da Patagônia Argentina.
Como disse, Lanin na parte norte e Nahuel Huapi na parte sul.
Eles se dividem geograficamente após o terceiro lago (dos 7 lagos), o Lago Hermoso.
Ambos parques nacionais estão em terras Mapuches. Ou seja, terras indígenas.
Na verdade, existe mais ao norte, alguns conflitos bem acirrados entre os povos Mapuches e a civilização. Isso se estende nitidamente mais ao norte, e principalmente do lado de lá das Cordilheiras, no Chile, onde as tensões entre Mapuches e a civilização ainda geram mortes.
Aqui, ao sul, na parte Argentina da Patagônia, o clima é de Paz. E não é raro você encontrar grandes casas de Mapuches, com grandes carros 4x4 na garagem. Isso é comum aqui.
A estrada é sem acostamento, mas de asfalto muito bom (quem pedala sabe a importância dessa informação!).
Conforme os quilômetros iam se somando à minha aventura, eu quase que perdia o ar de tão lindas as paisagens.
O trajeto de San Martin até Angostura, pelo mapa, daria para perceber uma variação de altitude considerável.
Eu estava pedalando na estrada que corta o Vale do Cerro Chapelco, que rodeia toda a região dos dois parques, à oeste e é considerado como montanhas pré cordilheiras.
De San Martin, se você subir algumas montanhas de fácil acesso, é possível ver os cumes nevados da Cordilheira dos Andes.
De longe isso é lindo demais!
O Cerro Chapelco forma a cadeia de montanhas ao qual as cidades como San Martin e Junin de los Andes (60 quilômetros ao norte de San Martin) se localizam em seus vales.
Em San Martin estamos próximos aos 600 metros de altitude, rodeados pelo Cerro Chapelco e Cerro Azul, que estão em 2.394 e 2.437 metros consecutivamente. Villa La Angostura estaria mais ao sul, primeiramente pela Estrada Provincial 19 e após o Lago Villarino (terceiro lago ao sul), pela Estrada Nacional 234, no Vale do Cerro Bayo, com 1.782 metros.
Mas... em termos práticos, não existem muitas subidas.
Todo o trajeto realmente é lindo... Porém, por volta do quilômetro 90 do Caminho dos 7 Lagos, eu avistei uma movimentação. Um ônibus parado e alguns outros turistas do lado de fora.
Isso me chamou, logicamente, a atenção. O ônibus estava quebrado, mas o que me chamou mais atenção não foi o ônibus ou as pessoas me olhando como se eu fosse um E.T.
Alí terminavam os meus dias de fartura... ou pelo menos minhas horas de fartura.
Tudo estava lindo demais para ser realmente verdade. Alguma coisa, eu costumo dizer, tem que dar errado.
Pois bem... na verdade nada de errado em si.... exceto pelo fato de alí, justo onde o ônibus estava parado, com turistas sacando fotos... era o final da estrada asfaltada!
Eu gelei... mas engoli seco e continuei.
Minha bicicleta NÃO suporta estrada de terra, mas eu não podia mais voltar. Era seguir ou seguir...
Escolhi, portanto... seguir.
Parei um pouco para falar com as turistas... que eram chilenas.
Bom... um parêntesis aqui.
Estou rabiscando meu mapa, vendo meu próximo destino de bike... provavelmente Valdívia ou Isla Grande Chiloe... ambos lugares banhados à oeste pelo Pacífico...
Porém, logicamente, e geograficamente, em território Chileno.
Eu estava ali, com alguns turistas chilenos da minha idade...
E eu bem que tentei um contato. Mas... porque os chilenos tem que falar daquele jeito????? PORQUE????
Falar com argentinos... nossa... é perfeito. Creio que seja fruto do meu maior contato com argentinos.
Mas isso não é de hoje.
No inicio do ano, eu estive no Uruguai, em um encontro de ativistas vegetarianos... E lá, eu me dava super bem falando e estando com argentinos e uruguaios... mas... no segundo dia do encontro chegaram os chilenos.
Nossa... é lindo ver eles falarem entre si... eles falam cantando! Mas entender mesmo... é bem difícil.
Fecha parênteses.
E isso foi o que marcou a minha parada perto desse ônibus quebrado, na transição da estrada boa... para a estrada ruim.
Eu mal consegui saber de onde elas eram... sei que duas eram de Santiago... tentei dizer que pretendo ir para lá... tenho uma amiga minha, que estudou Jornalismo comigo, que abandonou tudo e hoje esta morando em Santiago e ela tira umas fotos lindas da cidade e de vez em quando me manda.
De resto... foi curto o contato, e logo subi novamente na bicicleta, respirei fundo... e andei os primeiros metros literalmente na selva.
O inicio da estrada é bem fechada, sentido San Martin – Angostura.
Parece mesmo que você esta entrando em um cenário do filme Avatar.
Muito verde e de um verde muito intenso.
Mais adiante, uns 5 quilômetros de estrada de terra, avistei umas máquinas e uns homens trabalhando.
O início da estrada até que não era tão ruim. Era de terra vermelha, batida. Com algumas pedras grandes, mas se eu fosse prestando muita atenção na estrada, tudo iria ocorrer perfeito.
Baixei, violentamente, meu tempo na estrada. O que na estrada asfaltada eu estava fazendo cerca de 1 km a cada 4 minutos, passei a pedalar 1 km a cada 8 ou 9 minutos, em média.
Parei para perguntar aos trabalhadores quantos quilômetros ainda existiam de terra.
Ainda bem que os trabalhadores eram argentinos. Deu para, pelo menos, completar uma conversa.
Mas enfim... obtive uma notícia arrebatadora.
Os próximos 50 quilômetros de terra.
Ou seja, o resto da viajem de terra!
Enfim... continuei...
A estrada estava em construção, alí no início, mas já tendo pedalado uns 10 quilômetros, eu já não via nada além de uma paisagem linda na minha frente, uma estrada de terra batida sob as rodas finas da minha bike, um ar seco, típico do clima temperado do extremo sul, um sol quente e do meu lado e muitas árvores. Muito verde e volta e meia, um rio ao lado da estrada.
Imaginem a composição disso em imagens... imaginou? Pois bem... é, pelo menos, três ou quatro vezes mais LINDO que isso!
Os lagos continuaram a aparecer ao longo dessa estrada.
Parei por volta das 3 da tarde para “almoçar”. Procurei um filete de água cortando a estrada e me embrenhei na mata, para encontrar um lugar plano para descansar um pouco.. e almoçar algo.
Era impressionante ver as montanhas com os cumes cheios de neve e aos poucos aquilo ia se aproximando ainda mais.
Era perfeito ver alguns pequenos montes cortados pelas máquinas, mostrando as camadas desde a terra vermelha, até a rocha mãe, basalto... ou lava vulcânica, que, por sua vez, é a que origina, através de anos de erosões, a terra de cor vermelha.
Mais lindo ainda, foi perceber, bem ali, onde eu estava almoçando, uma sequência de montanhas mais baixas e sem neve. Porém, toda a parte do cume, de uma coloração cinza mais puxado para branco, e o resto da montanha, a parte baixa com muito verde.
A parte cinza, a parte da rocha crua... sendo erodida pela neve. Algumas “valas” cavadas no meio da parte baixa e verde da montanha dava para perceber o caminho do derretimento do gelo, no verão...
Aquelas cores, realmente eu nunca antes vi nada igual!
Almocei grão germinado de girassol, 3 e exatamente 3 laranjas, alguns biscoitos integrais... e fiquei uns 20 minutos ali, sentado, respirando fundo e observando tudo que estava acontecendo.
Volta e meia, um carro quebrava o silêncio da floresta. O fluxo não era intenso, tão pouco fluxo... passava um carro a cada 20 minutos, ou algo assim...
 Essa estrada de terra não tinha muita subida, tão pouco descidas.
Relativamente plana, que cortava não raramente, algumas fazendas geralmente de gado.
Alí tudo é região de povos Mapuches, como já havia dito.
Não vi muita plantação. Poucas na verdade.
O clima temperado é meio teimoso para plantação, de fato. Mas as poucas plantações que eu vi, estavam protegidas por envernadeiros.
Eu já deveria estar na metade do caminho de terra. Olhei no mapa a bifurcação ao qual eu me encontrava naquele momento.
A única bifurcação da estrada desde que entrara nela.
Parei, logicamente, para me certificar de que alí era o local correto.
Sim... faltavam ainda, e segundo o mapa, mais 22 quilômetros até Angostura. E segundo informações dos trabalhadores no inicio da estrada de terra, teria, portanto, mais 22 quilômetros de estrada de terra.
Desse cruzamento em diante, as coisas mudaram consideravelmente.
Exatamente dessa forma. Da água para o vinho.
Depois desse cruzamento, que de um lado me levaria ao balneário de antepenúltimo lago (dos 7 totais!), o Lago Traful, e do outro, ao Lago final, o Lago Nahuel Huapi, donde esta localizado a primeira cidade ao norte do lago, Villa La Angostura, ou seja... meu destino.
Segui pela estrada (ainda de terra) que me levaria à Angostura.
Depois do cruzamento, uma descida de uns 200 metros e depois, como eu disse... TUDO mudou!
A estrada se tornou, literalmente um campo minado.
Campo Minado?
Sim... é assim que eu costumo me referir à estradas com muitos buracos e pedras. Com uma bicicleta Speed (de pneu fino), um erro de cálculo de direção, pode literalmente acabar com sua alegria e com a alegria de qualquer um. EU GARANTO!
A estrada se tornou cheia de buracos. O que antigamente era terra vermelha batida, virou cascalho solto.
O que era plano, se tornou uma montanha russa, com muitas subidas e descidas.
Aí sim as coisas começaram a me preocupar.
No inicio, eu não estava muito preocupado, pois quando cheguei na estrada de terra, era por volta de meio dia, ou um pouco mais.
Eu pensei: Bom... meio dia... e eu tenho 60 quilômetros pela frente de estrada de terra. Acho que se eu for empurrando a bicicleta, eu consigo ainda chegar de dia em Angostura.
Abro parêntesis aqui...
Estou mais próximo do pólo sul... os dias aqui são mais longos. Isso, em termos práticos, significa dizer que 9 e meia da noite, aqui ainda esta claro.
E a noite começa a cair, de fato, após esse horário.
Fecho parênteses...
Enfim... faltavam ainda cerca de 22 quilômetros e agora... de estrada muito... mas MUITO ruim!
A paisagem... bem...
A paisagem nem tem o que dizer... eu tirei umas fotos e coloquei no meu endereço virtual de fotografias... não vou subir todas, pois eu cheguei a tirar mais de 1000 fotos (das quais, aproveitei somente umas 400... mas mesmo assim.. MUITAS!).
Eu cheguei a comentar isso com uma amiga (via internete / MSN), assim que cheguei em Angostura, que eu estava meio que enjoado de ver coisas tão lindas... da natureza.
E alí, naquele momento em que eu me vi com a minha bicicleta... com mais ou menos 15 quilos de equipamentos... e uma estrada deplorável, eu passei a observar bem menos o cenário, porque se eu já estava de olho na estrada, à partir dali eu teria que estar com os DOIS olhos nela... e muito bem ligados à ela.
Eu mal conseguia ficar equilibrado na bicicleta.
A estrada teria acabado de receber uma capa de cascalho. Estava tudo muito recente com certeza o cascalho fora colocado há poucos dias...
Estava semi impossível de ficar sentado na bicicleta... Pedalar em pé era ainda pior, com o peso da bagagem nos alforjes da bicicleta, ela tornava-se ainda mais instável.
O que eu pedalava no início da estrada de terra, 1 km, em média a cada 8 ou 9 minutos... passei a fazer 14 ou 15 minutos por km sobrevivido!
Estava tenso...
Mas depois de uns 4 ou 5 quilômetros, confesso que passei a entender aquilo como um grande desafio.
Eu não havia dito que eu estaria enfrentando o grande “Desafio dos 7 Lagos”? (titulo que eu mesmo dei a essa minha primeira viagem de bicicleta em estradas patagônicas).
Pois bem... era à partir dali que começaria, de fato, o desafio.
Reuni todas as minhas forças.. e todo o meu humor para enfrentar.
Me senti numa guerra, onde eu portava com uma mensagem importante para entregar ao Capitão Angostura (logicamente em Angostura)... e eu estava passando agora por um campo minado e eu deveria tomar MUITO cuidado com a rota.

(risos...)

Bom... minha imaginação não é muito fértil... eu poderia ter imaginado mil coisas, eu sei.... mas como eu gosto de coisas camufladas e os tons de verde estavam ali, tão perto... não foi difícil me imaginar nessa história (risos..).
Horas iam passando... a estrada ia ficando cada vez mais instável.
O fluxo de carros parecia ter aumentado, ou eu que comecei a reparar mais nessas coisas.
Eu não podia agora, prestar atenção em mais nada... somente na estrada, nas pedras... nos buracos...
Cheguei então no penúltimo lago. O Lago Espejo.
Eu estava escutando Angus & Julia Stone... lembro disso, porque eu lembro que na hora que eu fui selecionar algo para escutar no Ipod, eu pensei em escutar algo bem... bem calmo... porque se eu escutasse alguma coisa mais agitada, eu fatalmente iria acabar com meu bom humor (que já estava em níveis críticos...)
Cheguei ao Balneário do Lago Estejo.
Lindo... (nossa... que coisa chata ter que ficar dizendo a todo instante que é lindo...lindo...lindo... tudo era lindo alí!)
Havia alí, um grupo de motoqueiros, que havia passado por mim não fazia muito tempo.
Eles estavam parados, fumando ganja (Maconha).
Assim que eu cheguei, eles me ofereceram... e eu, como sou muito educado, disse que.... não, não queria.
Enfim...
Tentamos conversar um pouco. Ambos eram de Rosário, uma cidade mais ao norte. Umas das cidades mais importantes da Argentina.
Eles estavam viajando de moto. Eram 3... tinham cara de ter entre 40 a 45 anos...
Estavam com motos gordas (ou grandes... como queira!) e começamos a conversar... Conversa vai, conversa vem... nos apegamos no tema.... ESTRADA!
(risos...)
Foi então que eles estavam criticando o estado da estrada e tudo mais... Nessa hora eu olhei para um deles e disse: “Para vos és mui fácil. La ruta esta buenissima! Mira mi cobierta!”
E mostrei o meu pneu. Eles não tinham reparado... mas meu pneu era de asfalto e não de terra.
Rimos mais um pouco... e resolvi seguir adiante...
Parti antes deles.
Agora estava mais perto. Eles disseram que haviam mais uns 12 quilômetros de estrada de cascalho e pronto... estaria no Paraíso, ou seja... no asfalto.
Mais alguns quilômetros adiante, notei a presença de um ciclista que vinha em direção contrária a minha.
Era o Luis... que por coisas que não se pode explicar, a não ser colocar a culpa no destino, era massagista da equipe oficial de ciclismo da Argentina.
Nessa hora que nos encontramos, ele me viu, e lentamente ele veio pedalando em direção a minha bicicleta.
Na verdade, confesso que notei que ele queria falar comigo somente quando parou quase do meu lado. Eu estava tão entretido escutando música e prestando atenção redobrada na estrada que não cheguei a reparar que ele estava pedalando em minha direção...
Enfim, parei, desci da bicicleta e ele também.
Ele falou alguma coisa. Eu fiz sinal com as mãos de que eu não havia entendido.
Ele mexeu os lábios novamente, e eu ainda assim fiz sinal de não ter entendido.
Aí então, eu finalmente tirei os fones de ouvido, e ele repetiu o que havia dito antes... e dessa vez eu entendi!
Ele havia me perguntado se estávamos distante do Balneário do Lago Estejo.
Disse a ele que estava há uns 5 quilômetros de lá...
Mas já eram cerca de 5 da tarde.
Começamos a conversar... e eu disse que era do Brasil e tal... ele se assustou ao ver o pneu da minha bicicleta e me perguntou o que eu estava fazendo ali.
Eu, meio que em um tom de ironia... respondi: Ué... como assim o que eu estou fazendo aqui? Estou viajando, oras!
Aí ele se explicou: Não...não... digo... o que você esta fazendo aqui com essa bicicleta?
Ahhhh aí sim eu entendi! (risos..)
Pois é... expliquei que fui pego pelo acaso, naquela estrada de terra. Disse que só os últimos 20 quilômetros que estavam de matar mesmo...
Mas que enfim... eu estaria indo para Villa La Angostura. Foi então que ele disse que por conta do horário, ele ia voltar comigo, então.
Que estava ficando em Bariloche (90 quilômetros de Angostura), mas que veio para Angostura de bike na manhã do dia anterior de bicicleta para conhecer o tal Lago Espejo.
Ele voltou comigo para Angostura. Voltamos conversando... e finalmente chegamos no asfalto.
Foi uma emoção muito forte para mim... (risos...)
Eu estava sem água, o Luis também... mas enxergar o final da estrada de cascalho e ver o asfalto fora para mim, uma das sensações mais maravilhosas de toda viagem.
Dali, do ponto onde começava o asfalto, seriam mais 8 quilômetros até a cidade (mas 8 quilômetros de asfalto!)
Nossa.. perfeito...
Logo quando começou o asfalto, já havia uma bifurcação... que faria com que você chegasse até a fronteira com o Chile à oeste, ou até Angostura, seguindo para o sul.
Luis conhecia toda a região, e foi me explicando os caminhos e tal.
Dali, daquele ponto de bifurcação, mais 32 quilômetros (de asfalto) estaria a fronteira com o Chile e logo depois, a temida Cordilheira dos Andes.
Confesso que me deu uma vontadinha de seguir à oeste, rumo ao Chile... mas não... não. Naquele momento eu deveria vencer o tal “Desafio dos 7 Lagos” e finalmente chegar em Angostura, ou também como é conhecia por aqui, Angostura – O Jardim dos Andes.
Entramos então, há alguns poucos quilômetros de chegar à cidade, no balneário do último dos 7 lagos... o famoso e enorme Lago Nahuel Huapi!
Subimos no Deck de vista panorâmica!
Ufa! Não acreditava no que estava vendo! Já sabem né? Lindo e todo aquele blá...blá..blá...
Mas não sei... aquela visão toda estava com gosto de... “Consegui!”.
Eu estava finalmente em Villa La Angostura!
E o último Lago, dos tais 7 Lagos.... não sei se foi o momento, mas ele parecia mais lindo do que todos os outros.
De fato, o maior lago de todos os lagos do Parque Nacional Nahuel Huapi...
Só para você ter idéia, esse lago que banha a cidade de Villa La Angostura ao norte, é o mesmo lago que banha Bariloche ao Sul... Ele é muito extenso.
No meio dele, existem duas grandes ilhas. A Arrayanes, que tem um Parque Nacional só para a ilha, com o mesmo nome. E a Ilha Vitória, onde está localizado hoje e desde a época da segunda guerra mundial, o CENA - Centro de Estudos Nucleares da Argentina.
Dizem por aí, que a Ilha Vitória foi palco de estudos que levaram cientistas nazistas do III Reich a fazerem experimentos de fusão nuclear na ilha. Já ouvi dizer que os experimentos deram certo... e ninguém sabe onde estão os tais resultados disso. Mas tudo é muito conspiratório quando o assunto é esse. Mas que de fato, nada foi revelado.
Mas enfim.. a Ilha Vitória hoje é rodeada de mistérios... e dizem que ela brilha à noite. (risos...) Isso é fácil de imaginar o motivo! (risos...)
Enfim.. paramos no balneário do último lago e ficamos conversando por um bom tempo.
Logo chegaram os motoqueiros que eu havia encontrado no balneário do Lago Estejo... conversamos pouco e eles foram embora (estavam indo para Bariloche...).
Ficamos eu e o Luiz conversando e tal.
Ele era massagista. Fazia Reiki e morava em Córdoba (Cidade mais ao norte. Também uma das maiores cidades da Argentina e importante pólo político nacional.), mas estava trabalhando nesta temporada em um SPA em Bariloche e que pretendia voltar para Córdoba de bicicleta.
Comemos umas nozes que ele tinha. Compartilhamos um pouco de alimento... eu tinha ainda umas sementes de girassol e uns biscoitos...
Ele estava mudando sua dieta para o vegetarianismo. Conversamos, então, um pouco sobre isso, pois eu sou vegetariano.
Ele disse que havia começado a se questionar sobre sua alimentação ao entrar em contado com um grupo de estudos védicos de San Martin (justamente a cidade onde eu estou vivendo), e que queria muito conhecer a cidade.
Ficamos mais um tempo proseando... e seguimos então para a cidade... finalmente a cidade.
Uma cidade extremamente burguesa. Cidade talvez mais burguesa do que San Martin.
Eu até achei estranho. Eu tinha uma imagem na minha cabeça de uma Villa La Angostura como um vilarejo, perdido no meio da Patagônia.... Ledo engano, meu caro!
Uma cidade totalmente turística. Luis estava ficando em um hotel mais ao centro, e estava pagando 120 Pesos a diária.
Eu fui ao ponto de informação turística para saber de albergues e tudo mais.
Peguei o endereço de uns 4 albergues na cidade, mas antes, disse à Luis que iria buscar refúgio no quartel dos Bombeiros.
Abrindo parêntesis....
Existe uma lenda de que o corpo de bombeiros mundialmente é conhecido pelos viajantes por ser um ponto de apoio e auxílio.
Dizem por aí, que se você esta viajando e precisa de um lugar urgente para ficar, basta se apresentar em um quartel do corpo de bombeiros que eles, por uma obrigação moral, devem te prestar auxílio.
Fecho parêntesis...
Perguntei também no ponto de informação turística onde ficava o quartel do Bombeiros.
Me despedi de Luis... trocamos endereços de e-mail e cada um seguiu para seu canto.
Eu, literalmente, estava quebrado. Muita fome e tudo que eu queria era um banho com água muito quente.
Um banho? Eu escrevi UM banho???
NÃO!
Eu queria dois!! DOIS BANHOS! Com água estupidamente... quente!
Fui direto para os Bombeiros... Na verdade, eu estava indo, mas no fundo o que eu queria mesmo era poder chegar em um albergue e tomar um banho.
Mas digamos que meu espírito de aventura ainda estava acordado dentro de mim e pensei que seria legal testar a possibilidade de ficar no quartel do Corpo de Bombeiros... seria algo a mais para contar para meus netos, pelo menos!
Bom... cheguei no Quartel, perguntei sobre a possibilidade de ficar e a mulher que me atendeu disse que isso não poderia ser feito.
Sem pestanejar muito, peguei minha bicicleta e fui direto para o albergue que a moça da informação turística havia dito ser o mais barato.
Cheguei ao hostel e nem fui procurar pelos outros.
65 Pesos e o rapaz da recepção ainda disse que teria salada de fruta no café da manhã!
Sinceramente... eu acho que fiquei no hostel só para esperar o café da manhã seguinte....
Quando o rapaz disse que teria salada de frutas... eu me senti um Homer Simpson pensando em Rosquinhas...
Eu cheguei ao hostel por volta das 7 da noite (ou melhor... da noite não.. ainda estava dia! Como eu disse, por aqui só escurece às 9 da noite).
Conversei um pouco com o rapaz da recepção... e desfiz as coisas do alforje da bicicleta e tratei de subir para o quarto.
Nossa... banho quente!
Tudo quente, na verdade. Hostel com sistema de calefação! Era tudo que eu queria...
Assim que entrei no quarto, fui logo ligando a calefação... o chuveiro quente e....

AHHHHHHHHHHHHHHHHHH.....

Depois de desejar tanto o retorno do asfalto na estrada de cascalho, um banho quente foi a coisa que eu mais desejei nesse dia!
27 minutos depois eu terminei o meu primeiro banho...
Coloquei uma roupa (a mesma! Não tinha mais roupa para vestir... – risos – só levei a roupa que eu estava usando! Os meus planos originais seriam de dormir na própria estrada, no meio do mata, somente com meu saco de dormir, que estava no alforje), peguei a máquina de fotos, o tripé e parti em direção a cidade para comer alguma coisa e tirar umas fotos.
Villa La Angostura é uma cidade pequena... ela se resume à uma grande avenida, que é o centro da cidade. E lá tem tudo... supermercado, lojas de roupas caras e muito.... muito chocolate.
Tirei umas fotos... Fui a um locutório ligar para minha mãe (que até então não sabia que eu estava viajando) e para uma amiga do Brasil.
Entrei rapidamente na internete... vi e respondi alguns e-mails rapidamente... e fui correndo para o mercado ver se tinha alguma coisa interessante para comer (geralmente nos mercados sempre encontramos coisas que nunca precisamos, mas passamos a precisar assim que vemos... – na verdade, acho que esse é a lei do marketing – risos... – saudades das minhas aulas de marketing na faculdade! – risos..).
De fato acabei optando por cozinhar no hostel... comprei uma massa de pizza pré-fabricada, uma salsa de tomate sabor “pizza” (que diabos é algo com “sabor pizza”? – mas eu liguei as coisas e pensei... pizza com salsa de tomate “sabor pizza” deve ser, no mínimo, duas vezes mais gostoso!).
Comprei umas batatas fritas e uma água com sabor de laranja (hummm uma iguaria muito comum aqui na Argentina! Tipo... águas com diversos sabores... e isso NÃO tem no Brasil!).
Passei pela sessão de farinhas e pensei em fazer Fainá (uma massa como uma massa de panqueca, só que é feita com farinha de grão de bico.... outra iguaria da Argentina!), mas não sei por qual motivo... eu perdi completamente o gosto por Fainá. Lembro que quando eu vim na Argentina pela primeira vez, eu fiquei apaixonado por Fainá (e também, particularmente pela palavra Garbanzo – Grão de Bico em Espanhol)... mas agora... perdi completamente o gosto por isso...
Enfim... o mercado que eu estava exibia logo na entrada um aviso: NÃO USE SACOLAS PLÁSTICAS! É MAL PARA O MEIO AMBIENTE!
Pensei: Ohhhh que nobre atitude.
Mas na hora que eu fui para o caixa pagar as compras, vi que realmente o mercado levava a sério o que dizia!
Não tinha uma sacola de plástico no mercado...
Porém, o mercado não oferecia algo substitutivo, como caixas de papelão, ou sacos de papel. Simplesmente você tinha que vir preparado para levar suas compras, ou simplesmente você vinha preparado para levar suas compras na mão!

Não preciso dizer que eu, como um bom turista que me prestei a ser desde que cheguei por aqui... não estava preparado.
Caramba! Nunca pensei que eu fosse criticar tanto uma atitude ambiental de um comércio! Eu só queria uma sacolinha e nada mais! (risos..)
Enfim... equilibrei tudo em duas mãos, paguei e sai dali (não exatamente nesta mesma ordem, ok?)
Ahhhh comprei também uma lata enorme (leia-se: Gorda!) de pêssego em caldas! (sim... em mercados você sempre compra coisas das quais você NÃO precisa... mas enfim... me pareceu muito apetitoso alí, naquela hora, pelo menos!)
Fui brincado de equilibrista pelas ruas de Angostura até o hostel, que distava uns 3 quarteirões do mercado que ficava na avenida central.
Chegando lá, fui direto para a cozinha.
Notei que não havia ninguém na recepção e me assustei ao entrar na cozinha.
Uma moça muito linda (linda! Linda!! Tudo aqui é lindo, lembra?) estava sentada, falando num telefone e meio que se assustou também ao me ver.
Logo desligou o telefone e aí era a minha vez!
Ela disse que era a recepcionista do hostel no período da noite, e se apresentou... e eu também.
Nossa... muito atenciosa. Ficamos conversando e ela se propôs a ajudar a fazer a pizza juntos.
Nessa hora eu até pensei em fazer algo mais elaborado... mostrar meus dotes culinários e tal... Mas na boa... eu estava quase que passando mal de tanta fome... a única coisa que fizemos juntos foi colocar a massa da pizza na forma. Abri a lata de salsa sabor “pizza” (lembra? Pizza rima com pizza! E pizza com sabor “pizza” é duas vezes mais gostoso! – risos... – ficou parecendo comercial de pizza, não ficou?) e joguei em cima da massa e pronto... estava pronta a pizza!
Verena era seu nome...
Verena me perguntou sobre o queijo na pizza...
Bom... ela tocou em um assunto muito delicado, que por algum acaso, dar-nos-ia algumas horas de conversa e seria perfeito para a noite e para a janta. Eu já estava me sentindo meio que muito calado durante toda a viagem... mesmo tendo conversado muito com as moças do Chile (ou pelo menos tentado!), e depois com os motoqueiros... e depois com o Luis...
Convidei ela para comer também a pizza que ela ajudou a preparar.
Ela não quis... mas sentamos em uma mesa e conversamos... e nossa, olha aí outra coincidência. Ela estava pensando em abrir um restaurante vegetariano na cidade...
Começamos a conversar sobre isso, tudo por causa da falta de queijo na minha pizza!
Na verdade não era bem um restaurante vegetariano... mas sim macrobiótico.
Enfim... conversamos bastante sobre isso.
Muito simpática a Verena... mas... eu teria que subir para meu quarto. Eu estava literalmente quebrado. Meus ombros doíam muito. Meus braços pareciam estar anestesiados por causa da estrada de cascalho...
Subi para o quarto, para meu segundo banho... (lembra? Eu disse que queria DOIS banhos! E não UM! – risos..)
Tomei outro banho fervendo, só que esse um pouco mais rápido... 23 minutos.
Subi na cama (era uma beliche, mas eu estava no quarto sozinho!) e literalmente desmaiei...
Dá para imaginar o que aconteceu durante a madrugada, né?

Imaginou?

Pois é... exatamente isso!

Eu tive uma câimbra violenta na panturrilha esquerda!
Forte demais... se existissem pessoas no quarto, certamente estariam acordadas pensando que eu estava tendo um ataque do coração!
Mas ainda que estivesse sozinho, fui forte e consegui contornar a situação e voltar a dormir como uma pedra quente acomodada num colchão da parte de cima de uma beliche em um hostel com sistema de calefação trabalhando à 100% de sua capacidade de esquentar o ambiente!
Acordei por volta das 9 da manhã... Verena bateu na porta e entrou, colocou umas coisas no armário e disse que o café da manhã estava pronto.
Café da manhã... (momento Homer Simpson).
Café da manhã na minha cabeça só me fazia lembrar de uma coisa... o rapaz dizendo-me sobre salada de frutas!
Despertei motivado...
Tomei mais um banho... só para despertar mesmo.
E descemos para o tal café da manhã...
Ela trouxe até a mesa uns pães torrados... uma geléia e sentou-se na minha frente para contar as histórias do pão e da geléia.
Ela disse que eu poderia comer, que o pão era feito ali no hostel mesmo, por ela e que a geléia também...
Conversamos mais um pouco sobre essas coisas... e então desceu um outro grupo de pessoas, umas 6 pessoas e ocuparam a mesa grande. Verena se levantou e foi servir a outra mesa.
Terminei de tomar chá com torradas e geléia e a deliciosa e esperada... salada de frutas!
Voltei para meu quarto... arrumei as coisas.
Agora sim eu estava pronto para pensar em muitas outras coisas.
Estava com um pouco de dor nos braços... mas estava literalmente bem.
Tudo havia dado certo.
Sentei na sala principal do hostel, abri o mapa e comecei a estudá-lo.
Voltar pela estrada de cascalho... NEM PENSAR!
Na conversa que eu havia tido com o rapaz que antecedera o atendimento ofertado por Verena, eu perguntei a ele sobre rotas alternativas e tudo mais... e nisso que conversamos... eu cheguei a dizer para ele que eu estaria indo rumo à Bariloche.
Mas sabe aquelas besteiras que você acaba dizendo no meio de uma conversa meio que sem saber o porque fala, mas acaba saindo?
Pois bem.. assim que abri o mapa, bati o olho no pontinho mais ao sul de onde eu estava (Angostura).... e lá estava... San Carlos de Bariloche!
Bom... eu nunca tive sequer vontade de conhecer essa cidade.
Se ali, no meio do mato, existia uma cidade burguesa como Angostura... imagine como seria estar em Bariloche?
Bariloche é uma velha conhecida por mim... eu lembro de ter ouvido falar a primeira vez dessa cidade por um amigo meu, de colégio... o Rafael.
Era um playboyzinho desses que não tem nada na cabeça... estávamos na oitava série. (hummm ok, com essa idade era meio difícil mesmo ter alguma coisa na cabeça!).
Ele era super metido a ser riquinho... e sempre falava e ficava enchendo o saco dizendo que havia ido para Bariloche... e só falava de Bariloche... e neve... e Bariloche...
E acho que foi a primeira vez que eu tive contato com esse nome. Então... ouvir Bariloche, confesso que me causava uma certa repulsa... eu tinha meio que esse pré conceito de ser uma cidadezinha nojenta e cheio de pessoas que viviam em bolhas e tudo mais...
Enfim... fui até Verena e conversamos mais um pouco. Eu perguntei para ela como era a estrada e fiz a pergunta principal:

- A estrada é asfaltada, certo?

Bom... diante da resposta afirmativa dela... eu fechei os olhos por um segundo. Mentalizei Bariloche e quando abri os olhos, olhei para ela e disse: Voy hasta Bariloche!
Fiz umas anotações de quilometragem no meu caderno de anotações... arrumei o alforje e fiquei mais um tempo na saguão do hostel dando uma revisada no mapa e na bicicleta.
Parte das pessoas que estavam na mesa grande de café da manhã passam pelo saguão e um deles se aproximou e começamos a conversar.
Kane era seu nome.
Kane era o fotógrafo de uma expedição (e nesse momento que ele disse, eu realmente notei que existiam dois Land Rovers super equipados estacionados do lado de fora do hostel, que não por acaso, haviam passado em algum momento por mim na estrada de terra. Notei a passagem dos Land Rovers, porque quem me conhece, sabe que eu sou apaixonado por eles – digo... pelos Land Rovers...).
Enfim... era uma expedição que vinha da Suiça e eles estavam atravessando o continente americano e agora estavam seguindo rumo à Ushuaia (nessa hora eu quase perguntei se havia espaço para mais um, porque eu também estava pensando em dar uma descida até lá! – risos..).
Começamos a conversar mais ainda.... e ele contando os detalhes e eu contando os meus detalhes.
E... como bem sabemos... quando estamos conversando entre duas pessoas que têm câmeras fotográficas por perto... conversar sobre “detalhes” é o mesmo que conversar mostrando fotos! (risos..)
Pois bem...
Esse foi um momento muito mágico e revelador da viagem!
Eu sempre tive uma tal teoria de que quem viaja de bicicleta acaba conhecendo mais os lugares... sentindo mais o ambiente e tudo mais.
Pois bem... a expedição havia partido, na manhã do dia anterior, de Junin de Los Andes (primeira cidade ao norte de San Martin) rumo à Villa La Angostura.
O meu trajeto foi praticamente o mesmo. Porém, eu parti de San Martin.
Ele tinha uma Câmera Mark II 5D Canon e umas 4 lentes (dentre elas, uma “olho de peixe”). Mas a que eu mais reparei foi a 100mm. E dali em diante eu estou decidido a ter uma!

Passamos, literalmente pela mesma estrada. Vimos as MESMÍSSIMAS paisagens!
Bom... ele me mostrou as fotos dele pelo lap top dele. Todas as fotos que ele me mostrou, eu reconhecia os lugares e tal.. conversávamos e tudo mais.
Comecei a mostrar a minhas fotos.... Mostrei muito rapidamente... mas várias fotos chamaram a atenção dele e ele me perguntava onde é que eu tinha tirado. E eu sempre respondia o ponto exato.
Conclusão... eles de carro... eu de bicicleta.
Eles passaram pelos mesmos lugares que eu passei. Mas eles não viram cerca de um quinto de coisas que eu vi.
Isso faz com que minha teoria tenha um fundo de verdade. Às vezes eu ficava parado, admirando a paisagem de um certo lugar e eu reparava que alguns carros passavam por alí. Uns muito devagar, outros extremamente rápidos.
Eu chegava a pensar: Poxa... porque o carro não para e as pessoas não descem para ver isso que eu estou vendo? Como é possível uma pessoa chegar até aqui e não prestar atenção nisso?
E ali estava a prova...
Você reduzir a velocidade dos acontecimentos é você respirar mais certos ares e viver mais os momentos. Isso é literalmente prático.
Bom... saindo agora do “momento filosófico”...
Continuamos conversando mais um tempo... eu tirei umas fotos para eles, da expedição completa, com 6 integrantes, muito bem organizada... tinha um fotógrafo, dois mecânicos, uma jornalista, e dois geógrafos.
Eu terminei a minha arrumação para a minha próxima expedição: “Bariloche 2010” (que eu criei ali mesmo, no hostel)
Saí da cidade... ainda sentindo os efeitos colaterais do acidente da noite anterior (que eu não contei aqui, porque contei na minha publicação passada, e de verdade que eu quero esquecer do episódio!Mas resumindo muitíssimo tudo... o acidente consistiu em eu, acidentalmente, espirrar um jato de spray de pimenta na virilha). Minha virilha ainda ardia um pouco, mas eu estava espiritualmente muito bem.
Logo na saída da cidade, uma ponte sobre o rio Correntoso me deu um grande BOM DIA!
Nesse ponto, eu passei pelo lugar que eu mais me arrependo de não ter tirado foto.
Eu lembro que quando parei para tirar umas fotos desse rio, eu vi uma casinha num barranco, ao lado do rio, linda demais... com um telhado verde perfeito (telhado verde = quando o telhado serve de base para plantação... geralmente é grama mesmo).
Eu me arrependo de não ter tirado foto dessa casa. Eu tinha parado para tirar foto dela, mas eu fiquei meio que impressionado com o rio, e fiquei só tirando fotos do rio e no final das contas, esqueci da casa!
A estrada agora era asfaltada. Perfeita, porém, ainda assim sem acostamento.
A estrada contornava o Lago Nahuel Huapi em boa parte do percurso até Bariloche.
Não tive problemas com água.
A essa altura eu estava mais cético e não mais demasiado emocionado com toda linda paisagem que via... afinal, eu estava dentro da paisagem! Por onde quer que eu olhasse, era quase sempre a mesma coisa.
Ou era uma estrada de asfalto perfeito, cujas plantas amarelas e roxas do acostamento faziam o contraste com o verde escuros das matas ciliares do asfalto e ao fundo sempre uma montanha alta e com neve no cume. Ou então um grande espelho d’água que termina em uma grande montanha com neve no cume.
Enfim.. essas coisas, que alí, naquele momento meio que se tornaram tão comuns... mas não ao ponto de se tornar banal. Mas uma coisa comum, eu diria.
De Angostura até Bariloche seriam mais 90 Quilômetros... perfeito para um domingo de sol.
Logo quando sai, ou melhor... um pouco antes de sair, percebi que estava sem bateria no Ipod, porque esqueci ele ligado durante toda a madrugada.
Eu não consigo viver muito tempo sem música...
Mas confesso que foi bom ter estado mais comigo mesmo durante 90 quilômetros...
Eu meio que ia cantando as músicas que eu sabia de cabeça (geralmente as músicas do Los Hermanos – Um salve para a Karen! – risos..) ou então conversando comigo mesmo, meio que acertando alguns pontos e tudo mais.
Isso, incrivelmente faz bem!

Mas enfim.. encerrando a sessão “Auto Ajuda”... estava um domingo de sol lindo.
Enquanto a estrada circundou o Lago, estava tudo indo maravilhosamente bem... tudo plano... asfalto perfeito.  Mas depois a estrada se distanciou do Lago e então começaram as subidas!
Ufa... eram subidas de verdade.
Mas eu estava com o sangue à flor da pele! Confesso que estava com sede de subida em asfalto!
Cada nova subida eu respirava fundo, travava os braços e dançava com a bicicleta, montanha acima!
Assim cheguei até o único cruzamento dessa estrada, a Rota 231, que se une, através desse cruzamento, com, nada mais, nada menos... a famosa RUTA 40!!!!!!!!!!!!!!!!!!

RUTA 40!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Nem eu sabia que ia pedalar na famosa RUTA 40! O mapa que eu tenho, como eu disse, é de 2002 e a que é hoje parte da RUTA 40, era, em 2002, parte da RUTA 234!
Abro parêntesis!
RUTA 40! Para quem não sabe... é a única Ruta (Estrada em espanhol) que liga-se mais ao norte da Argentina com a Estrada Transcontinental, que por sua vez é a estrada que cruza as Américas de norte a sul. Ou seja, liga o Alaska ao norte, com a Terra Del Fuego (Ushuaia) ao sul!
Ou seja mais ainda! Eu simplesmente estive na estrada que me levaria ao Alaska! (risos...)
RUTA 40 é o nome da Estrada Transcontinental na Argentina, que também cruza países como Chile, Peru, México, EUA, Canadá, etc.
Fecho parêntesis.
Bom... quando eu constatei que a ex-Ruta 234 era então a nova parte da Ruta 40, foi um ânimos à mais, eu confesso.
Pedalei uns 10 quilômetros por ela até a próxima cidade depois de Angostura, que é Nirihuau, e também a única cidade entre Angostura e Bariloche.
Parei aí para almoçar algo. Na verdade tomei um litro de suco de frutas mistas e como uns biscoitos e segui para os meus últimos 17 quilômetros da minha nova expedição “Bariloche 2010”.
Assim que eu entrei na RUTA 40, a estrada voltou a percorrer a lateral do Lago Nahuel Huapi. Só que desta vez... uma coisa horrível.
Na verdade, a segunda coisa que um cicloturista que viaja em bicicleta speed (pneu fino) mais odeia em sua jornada: Vento Contra!
Pois bem... assim que eu entrei na Ruta 40, para os últimos 17 quilômetros, eu estava em uma estrada linda... à minha frente eu poderia ver os picos dos Andes nevados... do meu lado direito, o Lago imenso e do meu lado esquerdo, muito verde.
Estava tudo muito lindo.
Mas a estrada nesse ponto estava mais movimentada. Muitos carros e muitos caminhões, em uma estrada ainda sem acostamento.
 E para piorar um pouco isso, um vento muito forte, contra!
E para piorar um pouco mais (se é que é possível!)... um vento muito gelado, pois vinha direto da Cordilheira exatamente de frente para mim, sem nenhum obstáculo natural.
Eu congelei nesses últimos quilômetros... tive que colocar o casaco, inclusive, mesmo fazendo muito sol!
Saí do hostel em Angostura por volta das 11 da manhã do domingo.... cheguei em San Carlos de Bariloche às 14:30, após também pedalar pela..... RUTA 40!!!!! (risos...)
A entrada da cidade não é muito agradável. Me pareceu a entrada de uma grande cidade... como São Paulo, por exemplo (de verdade!).
O terminal de ônibus fica logo na entrada da cidade... e foi o primeiro lugar que eu parei para ver os horários dos ônibus para San Martin.
Resolvi voltar de ônibus, porque a única rota alternativa de volta, que não passaria pela estrada de cascalho, teria 300 quilômetros a mais do que a rota que passa pela estrada de cascalho.
Fiz uns cálculos... eu paguei 51 pesos para voltar de ônibus de Bariloche até San Martin. E se eu ficasse mais uma noite em Bariloche eu pagaria no mínimo mais uns 80 pesos de hostel.
O último ônibus para San Martin saia às 18:00.
Comprei a passagem... corri para o ponto de informação ao turista (ou seja, ponto de informação para mim!) e vi os pontos turísticos da cidade... como estátuas... praças... monumentos... paisagens... museus... restaurantes vegetarianos e todas essas coisas que mais importam em uma cidade!
Bom... entrando pelo litoral da cidade, de bicicleta, eu passei por toda orla de Bariloche.
Lindo... de verdade. Mas não é nada que impressiona. A cidade é grande. Muito pichada... o calçadão da cidade não é muito conservado. Você vê o esgoto sendo jogado diretamente no Lago Nahuel Huapi...
Muitas pichações políticas! Muitas mesmo! Inclusive, logo na entrada da cidade tinha um outdoor de uma churrascaria e uma pichação enorme sobre ele que dizia: Carne és muerte!
Muita pichação de reivindicação de direitos dos povos indígenas (mapuches). Isso logo na entrada.
Conheci a parte litorânea e então fui conhecer os tais pontos turísticos.
Fui na Catedral Central de Bariloche... Linda, estilo gótico!
A praça central que reúne de uma só vez, a sede da Policia, o museu, o monumento de San Carlos de Bariloche, o estandarte Nacional e o ponto de informação turística estava cheio de pessoas...
Muitos turistas (como eu... mas não exatamente como “eu”... eles estavam mais bem vestidos...) e muitas pessoas que você percebe que eram dalí...andando de skate, bicicleta, sentados na grama tomando té...
O museu estava fechado. Um museu Paleontológico...
Era domingo, mas algumas lojas estavam abertas. O centro nervoso da cidade é composto por duas grandes avenidas paralelas.
Apesar de muito linda, a avenida litorânea não é um dos pontos centrais da cidade. Tem um ar meio que de abandono (exceto na região portuária... onde existem os iates e as lanchas dos magnatas... alí sim tudo é muito lindo!). Mas a região que mais tem concentração de pessoas, são essas duas avenidas centrais... e paralelas à avenida da praia, umas duas ou três quadras acima.
Bariloche é uma cidade com muito desnível. Pedalar aqui não é tão fácil e você precisa ter um bom (senão ÓTIMO) preparo físico...
Existem ruas com inclinação superiores a  45 graus...
Nessas duas avenidas centrais, muitas galerias de roupas caríssimas. De marcas que eu já vi por aí... mas de marcas também desconhecidas (mas mesmo assim caras!). Muita casa de Chocolate... Muita mesmo!
Os hotéis e albergues da cidade estão mais concentrados na avenida da praia... enquanto todo o comércio da cidade gira em torno dessas duas avenidas que são como duas ruas Oscar Freire (de São Paulo) uma paralela à outra, separadas por um só quarteirão.
Inclusive, as pessoas que circulam por aqui, tem aquele mesmo ar de superioridade das pessoas que caminham por aí, na Rua Oscar Freire de São Paulo (uma das ruas de lojas de roupas mais caras da América do Sul).
Sinceramente eu não tinha muito o que fazer por alí... a cidade é bonita. Tem o seu... digamos... charme.
Mas sinceramente não é um lugar que eu voltaria com minha namorada, ou com minha família.
A beleza natural mesmo da cidade está na orla do Lago.... e justo isso é o que esta com cara de abandono, enquanto o que menos importa, que são as ruas com as grandes galerias de roupas caríssimas estão impecavelmente.... hummmm... com cara de Europa.
Um amigo me disse que Bariloche tem muito a cara da Suiça... mas na verdade... eu não achei nada parecido.
Fiquei no centro da cidade tirando umas fotos até às 17:00 e fui então para o terminal encerrar minha expedição “Bariloche 2010”.
18:00 eu embarquei... 22:15 eu desembarquei em San Martin de Los Andes.
Pedalei até a Cabana (20 quilômetros) e cheguei em casa... finalmente em casa, no mesmo domingo, dia 28 de Dezembro de 2010.
Fui para o andar de cima... armei meu saco de dormir no chão mesmo.... e dormi.

Fim das transmissões... Câmbio.

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