Reportando diretamente do Uruguay.
Faz algum tempo que não escrevo... talvez por uma questão de tempo mesmo, mas tenho aqui comigo um caderninho que a Isadora me deu no inicio da viagem, que estou usando como bloco de notas.
Vou relatar rapidamente como se deram os dias seguintes desde que escrevi pela ultima vez, ou seja... 17/01.
Pois bem... vou ter que recorrer um pouco à minha memória, mas como ainda estou em tratamente justamente de memória, talvez eu não me recorde de todos e todos os detalhes.
Mas no fundo... talvez os detalhes aqui não sejam muito importantes... ao longo desses dias aqui fora da babilônia tenho me questionado sobre fazer de cada dia uma longa história.
Acredito agora, que esse ou esses relatos tenham muito mais importância para mim mesmo, ou para todos nós que estamos fazendo e construindo isso juntos.
Tenho me emocionado a cada dia que acordo, talvez pelo simples motivo de estar descobrindo simplesmente coisas maravilhosas ao lado de pessoas tão importantes ou que estão se tornando importantes mais do que pareciam ser.
Enfim... Vamos aos relatos dos dias seguintes:
Dia 18/01, foi uma segunda-feira. Estávamos em Floripa ainda na ocasião.
Acordamos cedo... fomos para a praia de Campeche. Conforme relatei em outros relatos, ela continuava linda.
Donde estávamos até o caminho da praia, andávamos cerca de uns 10 minutos por entre as casas. Uma coisa me chamou atenção... os jardins das casas e a estrutura das casas. Todas com grandes jardins. Lindos jardins. Cada um decorado de formas distintas. Coloridas flores...
Neste dia, andamos mais pela orla, pela praia.
Encontramos um palanque. Uma espécie de observatório do mar, que estava perfeitamente abandonado.
Ou melhor... abandonado até que descobríssemos que estava abandonado.
Nesse dia, ficamos no mar. Nadamos muito e tínhamos como base de observação da praia esse palanque, que apesar da dificuldade de se subir (tínhamos que escala-lo para subir), dávamos uma visão privilegiada de toda a orla.
É até difícil descrever que isso fez com que a praia ficasse ainda mais linda. A linha do horizonte... a ilha em si.
Não demorou muito por ali... é claro que chegamos a conclusão de que deveríamos dormir um dia ali, para assistir o nascer do sol bem na linha do horizonte.
E assim foi feito. Voltamos para casa. Fizemos um verdadeiro banquete com direito a uma bela limonada feita com limões expropriados de um desses lindos jardins citados. Pegamos cada um, o seu saco de dormir e fomos por volta das 23:00 para a praia.
Chegamos lá, subimos no palanque e dormimos.
Dia 19/01:
Foi simplesmente o despertar mais lindo que assisti nos últimos tempos.
O Marcelo foi o responsável por acordar-nos.
Era mais ou menos 6 da manhã. O dia estava clareando, porém o sol ainda não havia dado sinal de aparecer.
Acordamos todos, saímos dos sacos de dormir como borboletas que saem de seus casulos e sentamos na parte da frente do palanque para aguardar o sol despontar no horizonte.
Enquanto esperávamos, notamos algo simplesmente muito estranho.
Uma sequencia de círculos, um ao lado do outro, e todos perfeitos entre si.
Eu particularmente não consegui encontrar uma explicação racional para acreditar na existência daquelas formas na areia.
Vimos pouco a pouco o sol aparecer. Tiramos, talvez, as fotos mais lindas até então dessa viagem.
Depois que o sol estava inteiramente exposto, eu desci para caminhar na praia.
Fui ao centro do desenho na areia, dos misteriosos círculos.
Talvez nem deveria estar escrevendo sobre isso, mas senti uma energia muito forte. Como se algo estivesse me torando do chão. Corri para o mar e mergulhei.
Com o tempo, os outros vieram também. Brincamos um pouco na areia e partimos para casa.
Cozinhamos um outro banquete, acompanhado ainda com os tais limões expropriados e dormimos por umas horas, durante a tarde.
No final da tarde, fomos ao outro extremos da praia, em um local que se chamava “Riozinho”.
Nada demais. Mas na volta, presenciamos uma ação de Libertação Animal que realmente nos fez brilhar os olhos.
Existia um pescador na água, com uma vara enorme, retirando peixes médios do mar.
De longe, reparei que um rapaz estava olhando para uma espécie de saco, com alguns peixes pescados que estavam na areia, onde o pescador estava colocando os peixes.
O rapaz passou correndo, pegou o saco e continuou a correr em direção ao mar.
O rapaz fez isso tão rápido, que o pescador nem reparou. Não esperei para ver a reação dele quando percebeu a ação.
Depois fui conversar com o rapaz que fizera tal ação. Por uma enorme coincidência, ele era vegetariano também, e disse que havia feito aquilo pois não concordava com o assassinato de peixes, e que fazia aquele tipo de ação com uma certa frequencia.
Durante o tempo que estava conversando com o rapaz, o restante do pessoal continuou a caminhar e demos uma separada. Eu acabei ficando sozinho na praia.
Estava precisando também...
Sentei um pouco na areia... fiquei refletindo sobre alguns pontos e resolvi caminhar até a casa onde estávamos ficando.
Ainda na praia, resolvi voltar correndo para casa. E quando estava ainda me alongando, acabei deslocando o meu joelho esquerdo.
Nunca senti tanta dor como senti.
Deslocar o joelho é alguma coisa que acontece com frequencia comigo, visto que por conta de alguns episódios passados, rompi um dos ligamentos desse mesmo joelho. Portanto, volta e meia meu joelho sai mesmo do lugar, mas eu sempre consigo, após um tranco, fazer com que ele volte.
Mas a dor dessa vez já me fez desconfiar que alguma coisa diferente havia acontecido.
Tentei de toda forma fazer com que o meu joelho voltasse.
Caí no chão quando isso aconteceu, de tanta dor.
Retornei para casa praticamente rastejando, mas consegui chegar.
Chegando lá, o Marcelo tentou me ajudar, mas não logramos êxito. Coloquei gelo no local e fui dormir enquanto os outros jantavam.
Na ocasião, eu simplesmente perdi a fome.
Dia 20/01:
Esse dia resumiu-se basicamente em transporte de hospital em hospital.
Saímos cedo de casa, eu e a Isadora. Ficaram na casa o Saulo e o Marcelo.
Fomos primeiro em um hospital para tirar radiografia. Depois fui encaminhado para um outro hospital para ser atendido por um ortopedista.
No hospital de radiografia, até que fomos atendidos rápido. Talvez tenhamos ficado por lá uma hora ou um pouco menos.
Fomos ao outro hospital, no centro da cidade de Floripa. Neste sim, ficamos muito tempo.
Chegamos por volta das 11 da manhã e fomos atendidos às 17:00.
Enfim... fomos atendidos por um médico que olhou as radiografias, encostou no meu joelho uma vez e disse que me daria 7 dias de atestado!
(risos..)
Eu pensei: “Legal, agora posso ficar 7 dias em casa, sem trabalhar!”
A conclusão foi a de que não adiantou para nada. Eu estava com esperança de ser atendido e que o médico fosse dar um tranco e que meu joelho fosse voltar.
Mas não aconteceu. No caminho de volta para casa, eu tive a ideia colocar uma atadura super apertada.
O médico havia dito que eu deveria ficar de repouso por 7 dias e procurar um especialista em ressonacia magnética para saber o que havia acontecido.
Sendo que iríamos seguir viagem no dia seguinte.
Ou seja, a viagem estava ameaçada, visto que todos já estavam prontos para ir, exceto eu, que agora estava com um sério problema no joelho, tendo que ficar de repouso.
E só de pensar que eu estava carregando uma mochila de 23 Kg e que essa viagem exigiria muito do nosso físico, seria quase que loucura eu continuar.
Cheguei a avisar minha mãe que estava abandonando a viagem, porém, assim que apertei a atadura no meu joelho, percebi que eu poderia ficar de pé, e andar, meio que mancando, mas eu não estava sentindo dores no local.
Chegando em casa, conversamos todos nós. Decidimos juntos que seguiríamos viagem juntos.
Jantamos juntos e a noite, já na madrugada, iniciamos um debate bastante produtivo e fervoroso sobre domesticação e violência, o que talvez gere um texto futuro sobre o mesmo tema.
Fomos dormir.
Dia 21/01:
Acordamos um pouco tarde, 10:00. O ônibus para Montevideo partiria às 14:15.
Estávamos planejando fazer alguma comida para levarmos no ônibus, pois seriam 18 horas de viagem entre Floripa e Montevideo no Uruguay.
A Isadora, durante a manhã, finalizou o trabalho artístico de reconstituição do documento de identidade do Marcelo, que estava completamente deteriorado e a fronteira deixava claro que o documento de identidade deveria estar EM PERFEITO ESTADO para podermos ingressar no Uruguay.
Eu fiquei arrumando minha mala, enquanto Saulo e Marcelo ficaram cuidando da comida para a viagem.
Não deu tempo para fazermos o pão de queijo (sem queijo, obviamente) da Vegan Staff.org (receita em: cozinhaveganstaff.blogspot.com), mas compramos 20 pães e recheamos parte com geléia de morango e maçã e a outra parte com margarina vegetal.
Chegamos na rodoviária às 13:30. Compramos as passagens, tiramos o dinheiro necessário e embarcamos.
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