quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A vida segue

A vida segue...
Existem, de fato, muitas maneiras de se contar uma história. Muitas linguagens...
Aprendi ao longo de alguns anos que podemos muito mais do que devemos acima de tudo... aprender.
Mas, nas entrelinhas dos tempos passados, sempre é bom constar alguma espécie de registro.
E como isso é possível?
Particularmente eu eu poderia desenhar (sou péssimo... mas descobri há algum tempo que posso, se eu quiser!). Poderia escrever... mas eu poderia também congelar uma imagem para sempre...
Congelar como um alguém que é capaz de roubar a alma de um momento. Muitos dizem até que poderia roubar a alma de uma pessoa também.
Por mais incrível que isso possa parecer, hoje ainda encontro pessoas que acreditam nisso... e particularmente, eu também tenho uma ponta de crença. Por isso não desconfio, mas nem por isso deixo de acreditar muito mais agora nessa capacidade de inserir mais uma forma de contar uma história.

Pensei num filho, para poder me levar para o meu rio, pouco antes de eu morrer...
Vi e ouvi histórias das mais inusitadas. Anotei algumas... desenhei aqui dentro outras. Criei um livro... O Livro do Sim...
Desenhei nele palavras que talvez eu não tenha sequer a paciência de um bom rapaz para transcrevê-la por aqui...
Nao costumo repetir o mesmo erro duas vezes, ou ao menos, evito repeti-lo. Mas quando isso acontece, sempre o meu individualismo vai me proteger das açoitadas do meu meu próprio pensamento de reprovação.

Eu saí do sul... encontrei um norte mais quente. Cheio de coincidências que raramente me deixam com tempo e espaço para alguma outra coisa, a não ser o próprio exercício que as vezes se torna exaustivo, de encontrar sempre uma razão para tudo.
Confesso aqui, em linhas diretas, que deixei isso de lado.
Se eu escrever e contar todas elas, talvez eu seja apenas mais um contador de histórias... o que já me garantiria um lugar no céu, como um bom pai, daqueles que vai encher seu filhos de histórias que talvez nem sejam tão...tão maravilhosas... mas foram histórias.
E talvez um dia ele venha a descobrir que tudo fora verdade... E talvez um dia ele chore como eu chorei, e que isso não faça dele mais ou menos do que absolutamente ninguém.

Ao sair, portanto, pela primeira vez rumo à Capital Federal de Buenos Aires, eu lembro do horário que despertei tarde, por uma confusão complicada de explicar, mas uma confusão de fuso horários do despertador do celular, que até então tinha a sua unica função de servir como base de dados para os meus longos e angustiantes momentos jogando Sodoku... (fui um dos melhores jogadores daquele espaço virtual... ganhei medalhas e troféus... arrematei meus próprios recordes de dificuldade e acima de tudo, de tempo!).
Olhei o horário de saído do trem da estação Polvorines (província militar de Buenos Aires). Segui com meus dedos até a estação retiro. Bati o olho o horário. Segundo os cálculos, eu chegaria naquela horário exato.
Entrei no trem, eu e minha bicicleta, para o então primeiro reconhecimento de cidade.
Confesso uma ansiedade naquele instante.
E assim as estações iam passando.
Exatamente como o previsto... 12:34 da segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011....
12:34....
Talvez esse horário tenha para mim um significado ainda um pouco presente... Mas eu cheguei a olhar no relógio, para ver se o mapa não havia errado na programação.
Mas eu pisei na estação de Retiro (Capital Federal de Buenos Aires) exatamente... e tao exatamente às 12:34:27.
Nunca havia sentido aquela sensação...
Eu estava escutando alguma melodia elaborada por Premier... achei que naquele instante, suas cançoes combinariam com as cores da então inusitada Buenos Aires....
E fiz a escolha certa!
Velocidade!

VELOCIDADE!

VELO - CIDADE!

Saí da estação como um rato que escapara de sua jaula...
Cruzei a primeira rua! A segunda!
Parei no primeiro semáforo. Cerrei os punhos apertando o guidon da bicicleta, olhei para o lado e enxerguei o fundo dos olhos daquele taxista, como se o desafiara para uma corrida!
Sinal verde!

VELOCIDADE!

Eu saí na frente... tive tempo ainda de olhar para trás e dar um breve sorriso de canto de boca, muito peculiar em mim, nessas situações onde eu me sinto tão livre como quem podera voar...
Entrei em uma grande avenida! Não podia acreditar! A avenida mais larga do mundo... a 9 de Julho, ali, naquele instante, sendo percorrida palmo a palmo por pneus Maxxis 700 x 25!!
Foi intenso. Eu entrava nos corredores feitos de ônibus e carros.
O cheiro ainda era o mesmo da grande São Paulo... A poluição fez meu pulmão recém chegado dos Andes Patagônicos ainda sentir uma ardência! Mas nada que uma cusparada naquele asfalto quente não aliviasse a tensão...
As pessoas nos coletivos olhavam com estranheza. Talvez fosse a velocidade... ou talvez de fato eu estivesse fazendo algo de errado, como andar na contra-mão, ou simplesmente me meter a pedalar por entre os carros, como as motos faziam...
Percorri ida e volta dessa avenida.
Eu tinha coisas a fazer. Documentos para buscar...
Mas eu, por um instante quis me perder numa cidade onde é praticamente impossível se perder!
Não me perdi....
me meti por ruas e vielas, e quando menos percebia, estava exatamente no mesmo lugar donde partira...
Isso fazia com que tudo se transformasse quase em cenas de filme de terror... mas no final, eu sempre encontrava um ou outro ciclista pedalando na minha frente.
Nesse momento... nessa minha vontade afoita de correr, eu não deixei nenhum estar a mais de um metro de distancia da minha roda dianteira. E ao mesmo tempo, fazia questão de olhar para trás quando os passava.
Vi nos olhos de cada um deles, o meu futuro, disputando palmo a palmo, o espaço ali nas ruas daquela cidade.
Eu seria senão o melhor... o mais veloz de todos os entregadores de documentos da Capital.

Toquei a campainha do lugar que a Carolin disse para eu procurar.
Não sei explicar como eu consegui chegar até o endereço... mas o fato é que consegui....
Quando a Lulu abriu a porta, eu senti o cheiro da casa... a energia da casa.
Fora a primeira casa que eu teria para visitar, de uma lista enorme e cuidadosamente e carinhosamente elaborada por uma amiga de Buenos Aires (Yanina).
Mas quando eu entrei no quarto, eu olhei para a Lulu e disse: "Ok... yo me voy a quedar acá... tal vez, por 4 años!"
Olhei os cantos... as coisas espalhadas... as luzes penduradas nos tetos... Lembrei de uma amiga do Brasil (mas que esta vivendo em Londres agora)...
Não sei por qual motivo (na verdade, eu pouco sei de tantos outros motivos... e na verdade, não estou me preocupando em saber...).
Ali ia, ou melhor... vai ser uma espécie de novo início...
Voltei para casa onde estou ficando (Romina) e pensei um pouco no primeiro dia que eu me senti livre assim, quando cheguei em São Paulo/Brasil...
É estranho entender as coisas dessa forma simples, como se algo estivesse em movimento.. e justamente o movimento estar sendo proveniente desses ciclos... que como ondas, fazem expressões quase que como uma dança....

Enfim...

Muitas linhas... muitas imagens... muitos desenhos.
Já me conformei com o fato de nem sempre ser fiel ao que acontece... afinal, ser fiel é se render demais à razão... e não ao que é sentido.

Bom dia Buenos Aires!

Nenhum comentário:

Postar um comentário