sábado, 6 de novembro de 2010

Nieve

Dois dias depois da neve…
Eu acordei às 7 da manhã... eu queria sir, para fazer xixi...
Do céu caia flocos de neve... foi tão lindo...
A primeira coisa que pensei foi em mostrar... tirei fotos...
O antigo barranco que era e sempre foi cor de barro, agora estava branco..
Pensei na horta... pensei no frio que fazia..
Não foi a minha primeira vez... lembrei da primeira vez que vi a neve.
Eu dormia em um hotel na Espanha... meu pai me acordou e lá do alto do sétimo andar, e me mostrou...
Acho que foi a primeira coisa que lembrei... dos flocos voando.. sem ordem alguma. Uns vinham de cima para baixo, apenas seguindo a gravidade. Mas tinham uns que vinham de cima para baixo... impulsionados pelos ventos frios.
Aqui não foi muito diferente. Estava muito frio.
Queria apenas fazer xixi do lado de fora da cabana.
Acordei a Monga... o Gisbo depois...

“Despierta Gisbo! Tenemos nieve!!!”

Depois mais dois dias de muito frio. Frio de verdade... às madrugadas insistiam em marcar realmente 2 graus negativos, com sensações térmicas que chegaram à menos 7 ou 9...
Fui num lugar mágico.. queria ter escrito antes sobre isso.
Mas não sei... não era o momento. Lembro com exatidão só pelas palavras que escrevi relatando tudo à uma amiga do Brasil. A minha primeira reação foi a de enviar palavras de como havia sido aquele momento.
Uma pedra e depois dela, um abismo! Lindo!
Elegi o meu lugar por aqui.
Não tenho admirado mais tanto o frio.
Antes de chegar... eu sempre admirei o frio.. e hoje, me encontro com saudades do sertão brasileiro... das tardes dentro do açude e das poucas conversas que tive com a Mariana... Mas o suficiente para render um foto.. e muita história para contar....
Saudades disso também!
O sol aqui faz falta... estava conversando com um desconhecido... que lutou na guerra das Malvinas... ex-militar lunático por sua bandeira... ele me perguntou o que eu achava desse lugar.
Isso me fez pensar... faz poucos dias que tive essa conversa meio desajeitada com ele... porque meu espanhol ainda não esta perfeito a ponto de enfrentar uma universidade, mas eu realmente tenho sofrido evoluções absurdas.
Às vezes vou até a cidade sozinho... só para conversar com as pessoas.
Quando vou sem bicicleta, pego carona na estrada (estou em uma cabana que dista 12 Km da cidade mais próxima...) e costumo conversar com os motoristas.
Na semana passada, conversei com um jovem, que estava para se mudar dali, rumo à Buenos Aires... Ele ia estudar na UBA (Universidad de Buenos Aires).
A cidade é sempre a cidade... tenho a ligeira impressão que minhas conversas com a mocinha da LAn House, estão se transformando em uma amizade importante...
Eu não gosto de ficar muito em casa... apesar de ter muitíssimas coisas para fazer... as vezes tudo o que eu mais quero é sentar numa pedra e escutar o vento nos pinheiros, ou as águas glaciais descendo as pedras magmáticas...
Onde estávamos?
Sim...sim... Na minha possibilidade de ter encontrado talvez o lugar mais mágico dentro de um outro lugar mais mágico ainda.
Acho que eu não sentia esse frio na barriga há pelo menos 2 ou 3 anos...
Eu fui caminhando pela pedra... não existia a linha do horizonte. No seu lugar... a cadeia montanhosa de Chapelco... e mais ao fundo... sim... a parte extrema sul da Ruta 40 (estrada 40) que rasga as Cordilheiras de norte a sul, hora na argentina, hora no Chile.
Os cumes das montanhas aqui estão todos brancos... neve.
Parece açúcar...
Quando a noite não esta nublada... um céu tão lindo.
Não dá para acreditar que é o mesmo céu que vi há uns 4 meses atrás... no sertão do Ceará... junto com Inácio e Ivânia, onde conversávamos sobre literatura de cordel... e ele me recitava algusn de sua própria autoria...
Sabe... acho que aquele céu foi o mais lindo...
Ali, existia uma casa de Taipa Prensada logo a nossa frente... uma fogueira... dava para ver o horizonte iluminado pelas cidades. Aquilo me assustou. Eu não acreditei, num primeiro momento, que as luzes que brotavam do chão, bem ao fundo, eram as cidades distantes dali.
Enfim... ali acho que foi o méis lindo.
Mas aqui... aqui também é lindo... Mas confesso que o frio tem me deixado meio nostálgico.
Lembro de estar em Fortaleza nesse época do céu lindo... e conversando com uma amiga, eu dizia que amava o frio...
Mas sinceramente eu tenho repensado esse meu sentimento sobre o frio.
Tenho muitas coisas para fazer... mas o frio faz com que tudo fique mais duro e pesado...
Sair para cuidar da horta é um peso que eu não sentia no Ceará...
Temos que construir aqui o que falta das paredes da Cabana... temos também que terminar o sistema de calefação... e terminar a área externa...
Além de lixar uma outra casa, e pintar por fora...
Tudo isso em menos de 40 dias. Mas os dias passam... e o frio geralmente atrapalha aquele ânimo de sair e fazer as coisas...
Gosto do frio... mas do gelado!

Concluí...
Agora... informações úteis que eu até queria compartilhar com algumas pessoas que estão por vir para cá....
Traga casaco de frio. Eu dependi de um único casaco de frio que comprei em Buenos Aires... achando que seria suficiente, me arrependi de não ter gastado mais dinheiro com casacos!
Aqui, com certeza a minha mais importante aquisição (dentre as raras que tive... mas gastar às vezes é necessário!) foi um par de meias para ski profissional!
Nossa... o mundo é outro quando estou vestindo as meias, que quase se assemelham a uma bota!
Meias gordas aqui fazem falta.
Sabão de coco... aqui não tem! Os argentinos mal sabem o que é coco! Eu comi algo que diziam ser coco aqui... uma coisa estranha. Sem gosto nenhum de coco (mas era gostoso...).
Sabão de coco de babaçu são os que podem ser infiltrados diretamente no solo... e a proposta aqui na cabana é abolir o detergente e os sabões que ainda estão por aqui... que são de glicerina vegetal e animal...
Eu estou com minha bicicleta de estrada... mas estou pensando seriamente em gastar alguns pesos em uma mountain bike...
Para quem entende de bike... eu aqui com minha speed, estou brincando bastante de Cycle Cross... porque para chegar até a casa, tem um estrada de terra íngreme e de 4 km`s. E eu raramente faço esse trajeto empurrando a bike... (isso, para quem me conhece, fere bruscamente meus princípios! Nunca empurrar a bike! JAMAIS!!!! – risos..)
Vi alguns preços... são razoáveis... e parecem não ser tão caras... mesmo estando em um lugar onde tudo é muito caro.
A alimentação aqui é basicamente carboidrato.
Compramos um saco de batata... e um saco de cebola...
Comemos muito purê de batatas... Arroz... Polenta... Pizzas... Chapati (minha aprendizagem com o Rã, em Fortaleza foi significativamente importe! – tá... Rã é o nome de um amigo... – risos)...
Documentos...
Eu já devo ter contado sobre isso aqui... (não me recordo o que postei ou não postei... e esses textos todos eu escrevo da cabana, onde não tem sinal nem de celular...), mas estou tecnicamente ilegal na Argentina... alguém que eu não quero julgar, se enganou e enviou meu documento original para Bariloche, onde vai ser analisado meu pedido de cidadania permanente...
Permanente?
Sim... eu poderia optar entre provisória ou permanente...
Provisória me daria 2 anos na Argentina. Permanente me dará uma vida inteira...
Vida Inteira, Amir?
Hummm... tá.. pelo menos dois anos de Faculdade aqui. São os planos iniciais, depois da grande Revolução de 2010 (ahhh velhos e bons tempos! – risos..).
 Enfim... resultado de uma semana de correria no Brasil. Se vc mora no Rio ou em BBrasilia, as coisas podem ser economicamente mais fáceis.. (estou falando de grana! Plata, como eles chamam aqui!)
Não foi uma das coisas mais baratas da minha vida... mas eu gosto de uma frase de Bukowsky, apesar de achar muito pesada, como a maioria dos textos dele.

(...)

É CLARO QUE EU NÃO VOU CITAR A FRASE!
Mas enfim...
Somaram-se alguns erros com meus documentos ainda quando eu estava no Brasil... Histórico Escolar com RG errado... e outras coisas relacionadas à minha certidão de Nascimento!
Grana aqui e ali... Correios... Amigos articulados...
Enfim... uma correria, mas tudo deu certo.
Aqui, mais papeis... Registro Internacional de Antecedentes Criminais...
Portanto... se fez algo fora da lei... esqueça!
Aqui eles perguntam sua Religião... Mas não perguntam se você deseja matar o presidente, como fizeram para o visto dos EUA... (não que eu vá matar a presidente... mas.. se eu por alguma casualidade vier a matar, eu posso dizer: “Opppsss... foi mal, eu não sabia que não podia fazer isso!”).
E mais 300 mangos.. ou seja... Pesos... (aqui eles falam “mangos”... oficialmente aqui tudo é “mangos”... e particularmente falando... eu sempre usei “mangos” no Brasil... mas confesso que muitas vezes as pessoas não me entendiam... o que fazia com que eu usasse em demasia, somente com alguns amigos em particular – Isaac, no caso).
Então... mangos aqui significa grana... bufunfa... tutu... ou o que vc souber que esteja relacionado à cifrões ($$$).
Bueno...
300 mangos para enviar essa documentação para Bariloche.
Aí vc me pergunta: Bariloche?
Sim... Bariloche esta distante de onde eu estou por apenas 150 Km... (se aqui fizesse a droga de um solzinho.. eu juro que iria de bike! Mas o frio aqui é como o Capitão Nascimento nas favelas do Rio: Não perdoa!”)
Não sei exatamente porque Bariloche e não aqui.. Talvez lá tenha alguma embaixada ou algum escritório federal... ou sei lá... alguma coisa do tipo.
É lá e ponto final!
Mas eu poderia ter feito isso por Buenos Aires... Sim... Poderia...
Mas eu estive no escritório em Buenos Aires... e nossa... CAOS!!!
Não sabia que existiam tantas pessoas afim de se tornarem tecnicamente e aos olhos de um Estado, Argentino.
Curiosamente, a maioria (e bem maioria MESMO!!!) de pessoas que estavam lá, no escritório em Buenos Aires, eram Bolivianos e/ou Paraguaios...
Brasileiros?
(risos...) Não vi nenhum... apenas uns 3 ou 4... que estavam lá para pagar a multa de saída, por estarem na Argentina por mais de 90 dias, sem legalização de documentos.
Multa? 100 mangos, pelo o que me parece! (entendeu o “mangos”, né? – É isso aí!)
Enfim... 40 dias.
Eu vim para o extremo sul...
Vim fazer os tramites daqui... disseram que era mais seguro e mais ágil...
Não vim atrás de segurança... até porque estou limpo... não fiz nada de errado...
Mas até queria uma certa agilidade.
Mas no fundo... eu vou precisar tecnicamente disso só em Fevereiro de 2011, para inggressar na UBA.
Na verdade, preciso disso já...
Eu estou trabalhando com Bioconstrução, para algum milionário argentino que mora em Buenos Aires, e que vai pisar na casa dele por aqui, talvez duas vezes por ano.
Tenho que cuidar da câmara de resíduos de água negra e da pintura do telhado e paredes externas.
É uma casa de filme... dentro de uma estação de Golfe...
Nossa... assistiu Edukators? Pois bem... cada vez que piso ali dentro, me sinto em algumas cenas do filme... (só imagino!)
Enfim... eu precisaria de ser Argentino para trabalhar para esse sujeito.
Porque tudo dentro dessa estação é controlado. Quem entra... quem sai... quem trabalha...
E sempre pedem documentos...
Mas eu sempre digo que estou indo para ajudar a descarregar a caminhonete... e por enquanto, eu tenho que ficar e trabalhar só nos fundos da casa...
Às vezes me sinto um mexicano trabalhando ilegal nos EUA....
Fico vendo toda a grana do idiota... quanta coisa daria para fazer naquele espaço... Uma casa enorme! Para algum idiota pisar ali duas vezes por ano!
Tento ver o meu lado... acho que nunca vou ganhar tanta grana em tão pouco tempo na minha vida. Confesso que ainda não sei nem o que fazer com o dinheiro, talvez eu volte para Buenos Aires e me dê alguns luxos... como comer em algum restaurante vegetariano descente... ou sei lá... comprar um alfajor que não tenha gordura de vaca. Enfim...
Mas ver o meu lado é muito pequeno. Para o idiota, o que ele me paga por dia é talvez o que ele ganha em 5 minutos do dia dele, manipulando tudo do seu escritório da grande cidade!
A área da parte detrás da casa enorme (tipo... imagine aquelas casa de filme de romance enlatado norte americano? É mais ou menos isso... o lugar é um campo de golfe... tem umas 50 casas construídas... um condomínio fechado... tem um hotel, cuja a diária chega a custar 5.000 mangos... tem campo de golfe espalhado por todo canto... das 50 casas construídas, 3 estão ocupadas... o resto são casas de burgueses geralmente vindo de Buenos Aires... só casa enorme... que geralmente abrigam famílias de 3 ou 4 pessoas no máximo!)
Enfim... a área da parte detrás da casa é como dois campos de futebol.
Existe uma outra equipe de trabalhadores por lá. Fico olhando de longe a besteira que estão fazendo.
Toda a área do condomínio era nativa. Antigamente pertencente à algumas tribos mapuches (índios) argentinos.
Estão desmatando TUDO! Todos os dias... o barulho que se ouve nesse local são os barulhos oriundos das moto serras rasgando as matas nativas de pinheiros.
Esse lote ao qual eu estou trabalhando, não tem visinhos... então fica mais evidente ainda o trabalho civilizatório por aqui... basta vc olhar para o outro lado da cerca que delimita seu território, para ver uma mata fechada, com muito pinheiro, mas ainda assim, fechada. E nas terras desse magnata, uma linda área de uns dois campos de futebol, mais a mansão dele, que deve ter uns 5 quartos... a sala parece sei lá o que... grotescamente enorme. Uma mesa de jantar, sei lá para quantas pessoas... talvez umas 20.
E o curioso é saber para que isso tudo? Geralmente esses burgueses não têm amigos! E os poucos falsos que tem, são tão ricos quanto, a ponto de serem seus visinhos, e nunca precisarem de usar os quartos de visita... ou menos ainda, participar de um jantar familiar!
Na parede da sala, a cabeça de um veado pendurada...
Mas alguém tem que cuidar da merda dele... alguém tem que construir alguma coisa para a merda dele não ir direto para o lençol freático... que talvez ele pouco se importe... afinal, o sujeito negou a proposta de fazer três estágios de filtros de água negra que utilizaria nem um quinto daquele terreno todo!
Enfim...
Documentos...
Ainda não os tenho... aliás... além de não os ter... não tenho nem os convencionais.
Se eu for parado na rua, eu não tenho nem o que dizer... eu não sou nem turista por aqui.
Mas ainda assim, eu não tenho deixado de fazer o que eu tenho ou sinto vontade de fazer.
O soldado da “guardameria” disse brincando que poderia me prender. Espero que ele realmente esteja brincando...
A vida aqui é calma... fria e calma.
Hoje eu terminei de ler meu primeiro livro em Espanhol... (tá... li um outro antes desse, mas eu não recomendaria ele a ninguém...)
Walden – La vida en los Bosques, de Thoreau...
Nossa… linda a história. Acho que para quem o leu, não preciso dizer que me identifiquei.
Fica a dica para lerem... um dos melhores livros da minha vida...
Todas as noites aqui, eu tenho ocupado com filmes. Todos em espanhol. Tenho variado entre filmes com legenda em espanhol (isso treina a leitura) e falados em espanhol (audição).
Meu primeiro filme que vi totalmente em espanhol, foi Patagônia Rebelde...
Muito bom! E considero ter entendido.
Tenho assistido muitos, desde então.
E agora estou numa fase de assistir filmes que eu já assisti antes, em português, só que agora em espanhol... afim de começar a criar as relações.
Ontem assisti Bastados Inglórios...
Mas na semana passada eu assisti umas comédias espanholas muito boas...
El dia de la bestia... muito bom!
E... Torrente  - El brazo tonto de la ley..
Nesse eu ri muito! Nao sei se tem no Brasil… mas nossa! É simplesmente MUITO engraçado...
O Torrente e El dia de La bestia são do mesmo diretor espanhol... e os atores são quase os mesmos...
Assisti uma comédia romântica... Wristcutters – A Love Story.
Esse não era em espanhol, mas eu dublei ele para espanhol.
Muito bom o filme... nesse eu chorei!
Hoje eu vou assistir Mujeres Al Borde De Un Ataque De Nervios... de Almodóvar...
Sempre quis assistir esse, mas nunca tinha tido oportunidade.
Hoje a tarde, não fui trabalhar... hoje amanheceu nublado.. e choveu...
Fui cuidar da horta, colocar uma cerca, porque as lebres andaram pisoteando tudo por lá... (hummmm sabe... lebres são lindas... são coelhos gigantes... e que por aqui, sei lá... existem muitas! Muitas mesmo! É impossível vc sair para uma volta no bosque, e não encontrar umas 20 pelo caminho!)
E a tarde assisti dois filmes muito bons... Amarelo Manga... me identifiquei com o intelectual bêbado que ia as vezes no bar... falar do Brasil e dos Brasileiros... – risos..
E assisti também.. O sorriso de Monalisa...
Nossa... que filme lindo! Fala sobre valores e tradições. E sobre mudanças. Ideal!
Hoje o dia esta frio.... Quarta-Feira aqui é Miercoles...
A noite chega aqui por volta das 9 da noite... estamos mais próximos do pólo sul, na primavera patogônica, donde eu reporto essas palavras.

Abraços à todos meus amigos e amigas do Brasil... Sinto saudades.

Câmbio

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